F.P.



Durmo ou não? Passam juntas em minha alma
Coisas da alma e da vida em confusão,
Nesta mistura atribulada e calma
Em que não sei se durmo ou não

Sou dois seres e duas consciências
Como dois homens indo braço-dado.
Sonolento revolvo omnisciências,
Turbulentamente estagnado.

Mas, lento, vago, emerjo de meu dois.
Disperto. Enfim: sou um, na realidade.
Espreguiço-me. Estou bem... Porquê depois,
De quê, esta vaga saudade?
.
Fernando Pessoa

4 comentários:

    Penso que já todos passamos por esta sensação mas só um grande poeta assim a consegue exprimir... a vaga saudade de algo difuso, esta confusão de pensamentos e sensações que se debatem dentro de nós, esta atribulada forma de ser em que alguma força desconhecida nos divide... o que sou, o que fui, o que quero ser, e quando descobrimos, enfim, a mesma pessoa em nós, fica aquele vazio que não sabemos de onde nasceu...
    a alma humana é deliciosamente complicada!

     
    On 28 dezembro, 2009 candida disse...

    é muito mais correcto afirmar:
    eu sou mais do k um
    e o k fui já não sou
    o k serei, por isso continuo:
    sendo.

     
    On 29 dezembro, 2009 Bia disse...

    Olá!
    Tem uma brincadeira no meu blog. Gostaria que você participasse. Não é selinho!!!

    Bjs

     

    Neste belíssimo poema talvez esteja parte da explicação para a necessidade da existência dos seus heterónimos.

     

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