NOITE



A nau de um deles tinha-se perdido
No mar indefinido.
O Segundo pediu licença ao Rei
De, na fé e na lei
Da descoberta ir em procura
Do irmão no mar sem fim e a névoa escura
.
Tempo foi. Nem primeiro nem segundo
Volveu do fim profundo
Do mar ignoto à pátria por quem dera
O enigma que fizera
Então o terceiro a El-Rei rogou
Licença de os buscar, e El Rei negou.
*
Como a um cativo, o ouvem passar
Os servos do solar.
E, quando o vêem, vêem a figura
Da febre e da amargura,
Com fixos olhos rasos de ânsia
Fitando a proibida Azul distância
*
Senhor, os dois irmãos do nosso Nome -
O Poder e o Renome-
Ambos se foram pelo mar da idade
À tua eternidade;
E com eles de nós se foi
O que faz a alma poder ser de herói
Queremos ir buscá-los, desta vil
Nossa prisão servil:
É a busca de quem somos, na distância
De nós; e, febre de ânsia,
A Deus as mãos alçamos.
Mas Deus não dá licença que partamos.
Fernando Pessoa

2 comentários:

    On 31 janeiro, 2009 Pedro disse...

    Adoro Fernando Pessoa, o meu poeta preferido!!!

     

    Também gosto bastante de Fernando Pessoa ! ;)

    "Valeu a pena ?
    Tudo vale a pena se a alma não é pequena.
    Quem quer passar além do Bojador
    Tem que passar além da dor.
    Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
    Mas nele é que espelhou o céu. "

    Fernando Pessoa ( Do «Mar Português» )

    Bjinhos

     

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