"Porno", Irvine Welsh
24/01/2014 by Vasco
Sick Boy, protagonista desta narrativa
construída a várias vozes (em cada capítulo uma das personagens narra na
primeira pessoa), procura a todo o custo reinventar-se como empresário de
sucesso do novo milénio, e alcançar finalmente a glória que parece fugir-lhe. O
objectivo: conquistar um lugar de peso na indústria da pornografia. Não sendo a
sua alcunha digna de um génio do cinema, é sob o seu verdadeiro nome, Simon
DavisWilliamson, que Sick Boy envereda pela dura tarefa de recrutar autores,
argumentistas, etc. O reaparecimento de Mike Renton é, naturalmente,
problemático, uma vez que pairam sobre ele a traição com o negócio de heroína e
a revigorada fúria de Begbie, cuja psicopatia se agravou com o tempo que passou
na prisão. Sobre Spud recai o talento de Welsh para descrever a pobreza, a
solidão e a autodestruição.
Opinião
Seco. Provocador. Irónico.
Utilizando personagens já conhecidas noutras obras, Irvine
Welsh pega no melhor de cada uma delas – sendo que o melhor corresponde, na
verdade, ao pior que existe dentro de cada ser humano – e constrói um enredo
onde se evidencia a frieza, o sentimento de vingança, o egoísmo e o instinto
que possuímos de nos colocarmos permanentemente à frente de quem nos rodeia.
Isto, claro, exponenciando tudo o que de negativo as pessoas têm, através do
sarcasmo e do humor que tão bem caracteriza o autor.
A história é muito simples. Seria até demasiado simples,
não fosse o objectivo de Welsh mostrar aquilo que sempre quer mostrar: explorar
até quão baixo os seus personagens podem descer.
Os heróis – se é que podem ser considerados isso –
regressam à cidade onde tudo começou, depois de estadias na prisão, em Londres
e em Amesterdão e decidem fazer aquilo que sempre souberam: vingarem-se uns dos
outros, disparatarem pelos sítios do costume (ou seja, em bares) e armarem
estratagemas de forma a garantir que o melhor amigo não alcança mais
sucesso.
Existe, porém, um dado novo. Desde o início até ao fim, o
grande objectivo é a execução de um filme pornográfico capaz de captar a
atenção dos fãs do género. Ora, sendo o livro narrado por alguns dos
intervenientes, sempre na primeira pessoa, os seus pensamentos, conclusões e
incursões são capazes de nos obrigar a dar valentes gargalhadas ou a meditar
sobre aquilo que verdadeiramente move as pessoas. “Porno” é, a meu ver, um
excelente livro, mas não ao agrado de todos.
Conto ler em breve :)
Já li todas as obras de Irvine, pese embora o tenha feito já há vários anos.
Gosto muito deste autor e é daqueles que tenho pena de não escrever mais amiude, pois as suas obras são excitantes, provocadoras, duras e espelham muitíssimo bem a essência do Ser Humano.
Eu também sou um fã do autor.