Caspar David Friedrich,
O peregrino Sobre o Mar de Névoa (1818)


É (Um) Mar Qualquer

Deixa para trás o ledo canto da tristeza,
o suave suspiro de um amargo olhar,
a cândida viuvez de uma lágrima salgada,
deixa o olhar e a voz pousados numa mesa,
e vem só ao que te espera, ó desejada.
Pois para mim que te toco,
é o mar que sinto, é o mar.
O momento quando uma onda,
e outra onda e outra ainda,
desfaz o teu corpo contra o meu.
É o mar, é o céu, a areia húmida,
bandos de gaivotas que esvoaçam,
somos nós, és tu, sou eu.
Larga pois, inerte no poiso do seu fim,
o olhar triste, a lágrima salgada, a voz esganiçada,
e mergulha mais fundo no que é nosso,
de mim e de ti.
Nada mais restará, eu te asseguro,
mais nada que o toque imenso que não mente,
nada mais do que o olhar pousado no futuro,
e a sua voz quente e trespassante que nos resguarda.
Então este mar que é teu e meu, que é nosso.
Será carícia, luz celestial molhada, onde desperta,
o nosso coração dormente.

Casimiro Teixeira, in Poemas Por Tudo e Por Nada

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