Opinião:
Quem vive cá em S. Miguel, sabe que todos os dias as previsões meteorológicas são sempre (ou quase sempre) as mesmas – Céu Nublado com Boas Abertas. Estas “boas abertas” são a esperança de quem cá vive, ter algum sol… no entanto, e por aqui, as estações acontecem todas no mesmo dia. Por isso mesmo, o melhor será dizer “nublado com boas abertas”…

Nesta obra, Costa Santos esteve (quase) impecável, não fosse, por vezes o toque irónico a roçar o depreciativo com que fala dos nossos (meus) costumes.

O nosso personagem principal, vem a S. Miguel, concretizar um sonho do seu avô - escrever sobre esta ilha este povo! No entanto, e ainda no avião, encontra um personagem que lhe havia de trocar as voltas. Pessoalmente, no decorrer da história, achei a relação destes dois utópica. Uma pessoa minimamente inteligente não havia de dar o seu número de telefone a um desconhecido e muito menos envolver-se com quem não conhece. Mas estamos no mundo dos livros e não devemos questionar tudo! Muitas vezes devemos deixar-nos ir e eu deixei-me ir, mesmo não concordando ou achando estapafúrdio algumas das passagens.


De uma forma geral, gostei da escrita do autor e ainda fiquei a conhecer alguns fundamentos de algumas tradições.

Sinopse:
Os Açores com todo o seu mistério e isolamento. A busca de uma identidade pessoal num dos territórios mais perigosos e livres, onde não existe distinção entre realidade e ficção. Um homem volta à sua terra para cumprir uma missão que lhe foi atribuída por um avô que morreu: a de recolher histórias recentes dessa terra, a ilha de São Miguel, nos Açores. Esta é a narrativa de um regresso aos lugares onde cresceu e um duplo diálogo: com o antepassado que lhe deixou uma herança inesperada e com o presente insular impuro, algures entre o sagrado e o profano. Um livro de histórias que se cruzam.

As histórias do avô, internado na estância do Caramulo, durante os anos 40 do século passado, e as das personagens com as quais o protagonista se vai encontrando: um navegador francês em apuros, um traficante de droga ressentido, uma stripper ruiva com anúncio no jornal, um homem que voltou para vingar uma recusa antiga, um fã de Kafka que descobriu que o escritor tinha o sonho de viver nos Açores, um casal chinês que procura a integração num arquipélago estrangeiro, alguém que caminha de madrugada com um terço na mão. 

Céu Nublado com Boas Abertas é também a busca de uma identidade pessoal num dos territórios mais perigosos e livres, onde não existe distinção entre realidade e ficção: a literatura.

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