A nossa convidada de hoje é a escritora Romana Petri.
Romana Petri nasceu em Roma, onde vive. Tradutora, crítica literária, escreve regularmente para várias revistas e jornais italianos entre os quais, L’Unitá e Il Messagero di Roma. É actualmente também editora, responsável pela divulgação da literatura portuguesa em Itália. 
Considerada uma das vozes mais representativas da actual escrita italiana, inicia a sua carreira literária em 1990 com Il gambero blu e altri racconti (Prémio Rapallo e Prémio Mondello opera prima). Entre as suas obras mais aclamadas destacam-se Uma Guerra na Umbria - Case Venir, Prémio Rapallo-Carige, finalista Prémio Strega 1998, A Senhora dos Açores, Prémio Grinzane Cavour 2002; e Os Pais dos Outros, Prémio Chiara e Prémio CittàdiBari. Os seus livros estão traduzidos em português, inglês, francês, alemão e neerdlandês.*


"O livro que mudou a minha vida foi a Odisseia de Homero. Contudo, o meu primeiro contacto com a sua história não foi através da sua leitura, mas sim escutando-a. Eu tinha somente quatro anos e quem me a contou foi o meu pai nas primeiras horas de uma manha de Verão, ao mesmo tempo em que nadava comigo
nas suas costas. Nadou durante 3 horas sempre comigo junto dele, e eu fiquei deslumbrada pela beleza do tema que entretanto me narrava: a vingança. Era a história de um homem que não conseguia regressar à sua terra e que durante muitos anos teve de permanecer longe da mulher e do seu filho ainda que contasse com a ajuda da deusa Atena. As coisas que lhe aconteceram eram aos meus olhos surpreendentes, extraordinárias. Eu escutava o relato plena de entusiasmo e com a impressão de ser eu própria aquele filho que quase não se lembrava do seu pai e que tinha ido à procura dele para que a sua mãe não voltasse novamente a casar.

O meu pai foi um actor e cantor lírico, o seu nome era Mario Petri. Possuía uma grande habilidade para contar historias. Era tão bom a contá-las que eu chegava ao ponto de me confundir com as suas personagens. E durante aquela tarde na água, à medida que nos afastávamos da terra firme em direcção a um horizonte líquido, foi isso mesmo que me aconteceu: tornei-me Telemaco, que ajudava o seu pai na luta contra os pretendentes da sua mãe. No final, convenci-me de que fomos nós dois juntos, que os matamos. Só muitos anos depois li finalmente o livro. E na primeira leitura que fiz dele (depois fiz muitas mais, e ainda hoje continuo a relê-lo) tive a sensação, não de ler, mas de ver a historia, de a visualizar em imagens nítidas. E foi assim que aprendi que a literatura não é uma coisa que permanece no exterior da nossa vida, mais sim uma coisa verdadeiramente nossa, que nos mudamos e moldamos ao ponto de não haver dois leitores a lerem o mesma historia, porque cada um consegue entreter-se e reescreve-la a cada leitura."

Romana Petri
* informação retirada da wook

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