"O Livro" aquele que para mim é único - Ensaio Sobre a Cegueira de José Saramago
05/08/2014 by Paula
Filipa Fonseca Silva, é a nossa convidada. Acho que todos
já a conhecem, foi a primeira autora portuguesa entrar para o top 100 da Amazon com a obra "Os 30 - Nada é Como Sonhámos.
A Bertrand publicou este mês "O
Estranho Ano de Vanessa", o seu segundo romance. A Filipa nasceu no
Barreiro e actualmente vive em Lisboa.
Há incontáveis livros que fazem parte da minha vida, desde
“As Fábulas de La Fontaine” e os contos dos irmãos Grimm, que “lia” na
infância, aos livros da Alice Vieira, que comecei a devorar por volta dos oito
anos, à Isabel Allende ou à Marion Zimmer Bradley, cujas heroínas me deliciavam
na adolescência, e tantos clássicos da literatura que foram enchendo a minha
estante e o meu imaginário, e onde têm papel de destaque Eça de Queirós,
Dostoievsky, Kafka ou Garcia Marquez. Contudo, há um livro que me marcou profundamente
e que nunca mais me saiu da cabeça: o “Ensaio sobre a Cegueira”.
Até ao Verão de 2007 costumava dizer que não gostava de
Saramago. Gostava das crónicas, mas não conseguia ler os seus romances. Penso
que foi trauma de jovem de 18 anos, com a mania que conseguia ler tudo, e que
se atirou ao "Memorial do Convento" sem preparação. Só que às tantas,
esse facto começou a incomodar-me e a envergonhar-me até. Como não ler
Saramago? Que falha imperdoável numa leitora voraz, que, ainda por cima, desde
criança sonhava em dedicar-se à escrita!
Assim, comecei por perguntar a amigos que eram fãs do
escritor, que livro me aconselhavam para iniciar a minha viagem saramaguiana e,
aproveitando umas férias de três semanas, levei o “Ensaio” na bagagem, decidida
a lê-lo custasse o que custasse.
E custou-me muito. Custou-me ver ali retratada toda a
humanidade ou falta dela. Custou-me ver o melhor e o pior dos seres humanos.
Custou-me sair daquela prisão, daquele supermercado, daquela casa onde todos
partilhavam a mesma banheira. Mas ler, avançar pelas páginas, apreciar cada
escolha de palavras, cada sentido despertado, cada personagem, não custou mesmo
nada. Pelo contrário, foi um prazer intenso e difícil de igualar.
Desde então, decidi ler um Saramago por ano, até conseguir
ler toda a sua obra. E a cada um que leio cresce a certeza de que Saramago é e
será sempre um dos maiores escritores da história da literatura. Ainda não
cheguei nem a metade da vasta obra que felizmente nos deixou, e o “Memorial”
continua a desafiar-me na prateleira, mas não preciso ler nenhum outro para
poder afirmar que o “Ensaio sobre a Cegueira” é “O Livro”.
Filipa Fonseca Silva
Foto by Vera Marmelo
Filipa Fonseca Silva
Foto by Vera Marmelo
O meu Memorial do Convento.também tem o mesmo destino:prateleira,mas o !Ensaio sobre a cegueira" ,só um Nobel o poderia ter escrita.Também aprecio outros,mas este ,tal como diz a Filipa Fonseca Silva,marca-nos profundamente.
Ainda hoje quando visito a Casa dos Bicos saio de lá a chorar...
Saramago é um génio da Literatura tão amado como incompreendido.A sua esposa Pilar vem muitas vezes a Matosinhos e eu não me canso de a ouvir falar dele ,sempre com um enorme carinho.É fantástico.
Leiam(ou tentem ler) "Ensaio sobre a cegueira" !
Revi-me em várias coisas deste texto. Também eu tive muita dificuldade em ler o Memorial (acho que foi só à 4ª tentativa); também eu leio um Saramago por ano (mas é releitura, uma forma de homenagem desde a sua morte) e, mais que tudo, o Ensaio é o livro da minha vida.
http://pedrices.blogs.sapo.pt/78447.html
http://pedrices.blogs.sapo.pt/83198.html
Revejo-me no que toca ao Memorial do Convento, tive que o ler no secundário e na altura não o compreendi... mais tarde, talvez já perto dos 30 anos li-o e maravilhei-me! Fiquei fã incondicional de Saramago e sem dúvida, o Ensaio Sobre a Cegueira é a sua obra que mais me tocou. Brutal, a humanidade revista duma forma única, absolutamente um dos livros da minha vida!
Teresa Carvalho
Entre o "Memorial do Convento" e o "Ensaio sobre a Cegueira" destaco claramente o segundo. Incrível. Comecei a lê-lo sem grandes esperanças mas foi o que mais me marcou.
Escrevi sobre o mesmo em:http://atualidadesbyclaudia.blogspot.pt/2015/02/a-cegueira-2.html#more