Filipa Fonseca Silva, é a nossa convidada. Acho que todos já a conhecem, foi a primeira autora portuguesa entrar para o top 100 da Amazon com a obra "Os 30 - Nada é Como Sonhámos. A Bertrand publicou este mês "O Estranho Ano de Vanessa", o seu segundo romance. A Filipa nasceu no Barreiro e actualmente vive em Lisboa.





O Livro” aquele que para mim é único – “Ensaio sobre a Cegueira” de José Saramago




Há incontáveis livros que fazem parte da minha vida, desde “As Fábulas de La Fontaine” e os contos dos irmãos Grimm, que “lia” na infância, aos livros da Alice Vieira, que comecei a devorar por volta dos oito anos, à Isabel Allende ou à Marion Zimmer Bradley, cujas heroínas me deliciavam na adolescência, e tantos clássicos da literatura que foram enchendo a minha estante e o meu imaginário, e onde têm papel de destaque Eça de Queirós, Dostoievsky, Kafka ou Garcia Marquez. Contudo, há um livro que me marcou profundamente e que nunca mais me saiu da cabeça: o “Ensaio sobre a Cegueira”.
Até ao Verão de 2007 costumava dizer que não gostava de Saramago. Gostava das crónicas, mas não conseguia ler os seus romances. Penso que foi trauma de jovem de 18 anos, com a mania que conseguia ler tudo, e que se atirou ao "Memorial do Convento" sem preparação. Só que às tantas, esse facto começou a incomodar-me e a envergonhar-me até. Como não ler Saramago? Que falha imperdoável numa leitora voraz, que, ainda por cima, desde criança sonhava em dedicar-se à escrita!
Assim, comecei por perguntar a amigos que eram fãs do escritor, que livro me aconselhavam para iniciar a minha viagem saramaguiana e, aproveitando umas férias de três semanas, levei o “Ensaio” na bagagem, decidida a lê-lo custasse o que custasse.
E custou-me muito. Custou-me ver ali retratada toda a humanidade ou falta dela. Custou-me ver o melhor e o pior dos seres humanos. Custou-me sair daquela prisão, daquele supermercado, daquela casa onde todos partilhavam a mesma banheira. Mas ler, avançar pelas páginas, apreciar cada escolha de palavras, cada sentido despertado, cada personagem, não custou mesmo nada. Pelo contrário, foi um prazer intenso e difícil de igualar.
Desde então, decidi ler um Saramago por ano, até conseguir ler toda a sua obra. E a cada um que leio cresce a certeza de que Saramago é e será sempre um dos maiores escritores da história da literatura. Ainda não cheguei nem a metade da vasta obra que felizmente nos deixou, e o “Memorial” continua a desafiar-me na prateleira, mas não preciso ler nenhum outro para poder afirmar que o “Ensaio sobre a Cegueira” é “O Livro”.

Filipa Fonseca Silva

Foto by Vera Marmelo

4 comentários:

    O meu Memorial do Convento.também tem o mesmo destino:prateleira,mas o !Ensaio sobre a cegueira" ,só um Nobel o poderia ter escrita.Também aprecio outros,mas este ,tal como diz a Filipa Fonseca Silva,marca-nos profundamente.
    Ainda hoje quando visito a Casa dos Bicos saio de lá a chorar...
    Saramago é um génio da Literatura tão amado como incompreendido.A sua esposa Pilar vem muitas vezes a Matosinhos e eu não me canso de a ouvir falar dele ,sempre com um enorme carinho.É fantástico.
    Leiam(ou tentem ler) "Ensaio sobre a cegueira" !

     
    On 05 agosto, 2014 pedro disse...

    Revi-me em várias coisas deste texto. Também eu tive muita dificuldade em ler o Memorial (acho que foi só à 4ª tentativa); também eu leio um Saramago por ano (mas é releitura, uma forma de homenagem desde a sua morte) e, mais que tudo, o Ensaio é o livro da minha vida.

    http://pedrices.blogs.sapo.pt/78447.html

    http://pedrices.blogs.sapo.pt/83198.html

     
    On 05 agosto, 2014 macy disse...

    Revejo-me no que toca ao Memorial do Convento, tive que o ler no secundário e na altura não o compreendi... mais tarde, talvez já perto dos 30 anos li-o e maravilhei-me! Fiquei fã incondicional de Saramago e sem dúvida, o Ensaio Sobre a Cegueira é a sua obra que mais me tocou. Brutal, a humanidade revista duma forma única, absolutamente um dos livros da minha vida!
    Teresa Carvalho

     

    Entre o "Memorial do Convento" e o "Ensaio sobre a Cegueira" destaco claramente o segundo. Incrível. Comecei a lê-lo sem grandes esperanças mas foi o que mais me marcou.

    Escrevi sobre o mesmo em:http://atualidadesbyclaudia.blogspot.pt/2015/02/a-cegueira-2.html#more

     

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