"O Baloiço Vazio", Carla Lima
10/05/2014 by Vasco
- O que estás a fazer?
- Estou a fingir que estou morta
- Porquê?
- Porque me apetece. Importas-te?
- Mas porquê?
- Porque antes estar morta do que viver assim
- Assim como?
- Numa prisão
- Numa prisão?
- Estou presa a ti
- Estamos presos um ao outro
- Nem a fingir de morta me deixas em paz"
Opinião
Intenso. Obsessivo. Angustiante.
“O Baloiço Vazio”, livro de estreia de
Carla Lima, é uma perfeita viagem entre a loucura e a sanidade. Através de
capítulos curtos, Ana, a personagem principal, vai expondo todos os seus
fantasmas e, de forma ainda mais impactante, vai-se expondo a ela mesma, numa
espécie de confissão permanente a um amor que nunca foi aquilo que ela quis ou
precisou. Esta perspectiva do amor está muito bem abordada pois, no seio de
todo o comportamento obsessivo por parte de Ana, existem dois lados
perfeitamente definidos, um que corresponde ao de um homem que não ama como ela
necessita de ser amada e o outro respeitante às exigências dela que, no fundo,
nunca seriam cumpridas. Isto acontece porque Ana é diferente. E essa diferença
torna-a numa pessoa incompreendida e que acaba por agir da forma como esperam
que aja. Ana não reage, age. Porque chora quando não aguenta, mas muitas vezes
sorri quando na verdade quer chorar.
Este livro da Carla Lima impressionou-me
imenso. Gostei muito de o ler. Foi, na realidade, tudo aquilo que se exige
quando se pega num livro: um prazer.
Não costumo fazer isto, mas cá vai. O
livro pode ser adquirido directamente através da autora:
PVP: 10 €
Parece uma obra muito interessante.
Eu já disse isto uma vez, mas torno a repetir porque acho oportuno :
O livro da Carla Lima e a sua escrita fazem-me lembrar alguns livros da Maria Teresa Horta - a mesma prosa intimista, profundamente feminina e, ao mesmo tempo, um viagem alucinante pelos meandros do amor e das relações difíceis, em que muitas vezes nos sentimos prisioneiros, sem força para terminar ou prolongar - onde o medo da solidão e da incompreensão são os ingredientes para uma espiral de auto-destruição, trágica. A história de Ana é universal porque não tem género, e alguns diálogos são tão reais que quase parecem autobiográficos. Não dão uma resposta para as questões que assombram todos, mas também não há culpas ou julgamentos morais. Quando devia explicar, deixa ainda mais dúvidas; quando se procura o amor encontra-se uma amálgama de paixão e ódio sem fronteiras definidas, tal como acontece na vida real, exactamente como o amor devia ou não ser.
Carlos Mateus