Opinião: Era uma vez um amontoado de gente sem nome nem terra (…) deixando atrás de si (…) pegadas na crosta da terra, fundas e em correnteza(…)”.*
"Largo da Capella", é uma obra de António Canteiro que nos fala do povo/das gentes que “marcham” e marcam a terra, os locais por onde passam, deixando a sua identidade, a sua diferença na História.  Mesmo quando o fazem sem objectivos pré – definidos.
O trabalho de sol a sol, a importância dos mitos, das lendas e das amizades, são também factos abordados e evidenciados pelo autor como peças fundamentais  na construção de um futuro sólido e de uma civilização onde imperam raízes profundas.
Gostei da escrita do autor, simples e poética.

Sinopse:
Qual a origem do local onde nasceste? De onde provéns? Na vasta Gândara que inscreveu Carlos de Oliveira nos anais da literatura portuguesa, numa região essencialmente rural, o conhecimento da vida dos nossos pais e avós - homens que trabalharam a terra de calças arregaçadas, em mangas de camisa, que enterraram os pés gretados no lastro de lama, homens sem tempo nem biografia, dos quais provimos - é essencial para o estabelecimento da ponte entre o passado, cujos vestígios vão cada vez mais rareando, e o presente, tão próximo e turbulento, que vivemos no nosso quotidiano. O tempo corre, a vida foge ao ritmo alucinante do matraquear do relógio e, por isso, não podemos esquecer o busto de vida erguido a nosso lado, transfigurado na imagem de um avô sentado na cadeira ao canto da sala, a sua voz tremida, as suas mãos enrugadas, as alfaias que usava no trabalho, a casa, o pátio e o quintal, à sua volta, que nos remetem para um passado próximo e distante, para as raízes no chão onde caminhamos, e onde inexoravelmente um dia teremos que regressar. É por isso que se incita o leitor a abrir o livro e a virar a página, e a seguinte, e outra, e outras, sucessivamente, para que palpemos meigamente a plenitude do dia-a-dia desta gente, remetendo-nos ao seu valeroso passado através de um romance transformado em vozes, com o pendor religioso católico deste povo plasmado na alvorada da oração da manhã até às preces da noite na entrega da alma a Deus. Por isto, também, os padres da paróquia, figuras centrais neste microcosmos espacial, servem para extremar as parcelas de terreno escritas ao longo da narrativa...

*Citação retirada da referida obra.

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