
O MERCADO DOS GNOMOS
.De manhã e à tarde
As donzelas ouviam os gnomos apregoar:
“Venham comprar os frutos do nosso pomar
Venham comprar, venham comprar:
Maçãs e marmelos,
Limões e laranjas,
Cerejas inteiras
Melões e groselhas,
Pêssegos aveludados e sumarentos,
Amoras de cabeça escura,
Vacinos livres de selvagens,
Maçãs, amoras silvestres
Alperces, morangos;-
Amadurecidos juntos
Em tempo Veranil,-
Belas tardes que voam;
Venham comprar, venham comprar:
As nossas uvas vindas de vindimar,
Romãs grandes e graciosas,
Tâmaras e abrunhos agudos,
Pêras raras e rainhas-claúdias,
Damascos e aranhos,
Provem e saboreiem
Framboesas e ribésias
Bérberis brilhantes como o fogo,
Figos de encher a boca
Limas vindas do sul,
Doces à língua e sãs à vista;
Venham comprar, venham comprar.”
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Tarde após tarde
Por entre os juncos à margem do regato,
Laura inclinava a cabeça a escutar,
Lizzie dissimulava seus rubores:
Agachavam-se juntas muito perto
No ar que arrefecia,
De braços entrelaçados, a segredar entre lábios,
Faces e pontas dos dedos dormentes.
“Fica perto” disse Laura,
Levantando a cabeça dourada,
“Não devemos olhar para os homens gnomos,
Não devemos comprar os seus frutos:
Quem sabe em que solo se alimentaram
Aquelas esfomeadas e sedentas raízes?”
(…)
Mas Laura gulosa precipitou-se a falar:
“Boa gente, não tenho moedas;
Servir-me seria roubar:
Não há um cobre na minha bolsa,
E também não tenho prata,
E todo o meu ouro está no tojo
Que se agita ao tempo ventoso
Por cima da urze de ferrugem.”
“Tens muito ouro sobre a tua cabeça,”
Responderam todos em coro:
“Paga-nos com um caracol dourado.”
Ela cortou uma preciosa madeixa dourada,
Soltou uma lágrima mais rara que pérola,
Depois sorveu os pomos claros ou vermelhos:
Mais doces que o mel de fraga,
Mais fortes que o vinho que alegra o homem.
Mais claro que a água que escorria esse sumo;
Nunca antes provara nada igual,
Como poderia saciar-se por usança?
Ela sorveu e sorveu e sorveu mais ainda
Os frutos dados pelo pomar desconhecido.
Sorveu até os lábios ficarem doridos.
Então atirou fora as cascas vazias
Mas guardou um caroço amendoado,
E não sabia se era de noite ou de dia
Quanto voltou sozinha para casa.
(…)*
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* Christina Rosseti
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O tema da tertúlia virtual deste mês é o Desejo. Resolvi colocar aqui uma parte do poema de Christina Rosseti, "O Mercado dos Gnomos", em que duas irmãs são atraídas pelo chamamento dos gnomos, tendo uma resistido e a outra caído em tentação, seguindo o seu DESEJO...
O poema é magnífico, no entanto, extenso. Colocá-lo aqui na sua totalidade poderia cansar o leitor ou fazer com que desistisse a meio.
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