O MERCADO DOS GNOMOS - Christina Rosseti
15/03/2009 by Paula
O MERCADO DOS GNOMOS
.
De manhã e à tarde
As donzelas ouviam os gnomos apregoar:
“Venham comprar os frutos do nosso pomar
Venham comprar, venham comprar:
Maçãs e marmelos,
Limões e laranjas,
Cerejas inteiras
Melões e groselhas,
Pêssegos aveludados e sumarentos,
Amoras de cabeça escura,
Vacinos livres de selvagens,
Maçãs, amoras silvestres
Alperces, morangos;-
Amadurecidos juntos
Em tempo Veranil,-
Belas tardes que voam;
Venham comprar, venham comprar:
As nossas uvas vindas de vindimar,
Romãs grandes e graciosas,
Tâmaras e abrunhos agudos,
Pêras raras e rainhas-claúdias,
Damascos e aranhos,
Provem e saboreiem
Framboesas e ribésias
Bérberis brilhantes como o fogo,
Figos de encher a boca
Limas vindas do sul,
Doces à língua e sãs à vista;
Venham comprar, venham comprar.”
.
Tarde após tarde
Por entre os juncos à margem do regato,
Laura inclinava a cabeça a escutar,
Lizzie dissimulava seus rubores:
Agachavam-se juntas muito perto
No ar que arrefecia,
De braços entrelaçados, a segredar entre lábios,
Faces e pontas dos dedos dormentes.
“Fica perto” disse Laura,
Levantando a cabeça dourada,
“Não devemos olhar para os homens gnomos,
Não devemos comprar os seus frutos:
Quem sabe em que solo se alimentaram
Aquelas esfomeadas e sedentas raízes?”
(…)
Mas Laura gulosa precipitou-se a falar:
“Boa gente, não tenho moedas;
Servir-me seria roubar:
Não há um cobre na minha bolsa,
E também não tenho prata,
E todo o meu ouro está no tojo
Que se agita ao tempo ventoso
Por cima da urze de ferrugem.”
“Tens muito ouro sobre a tua cabeça,”
Responderam todos em coro:
“Paga-nos com um caracol dourado.”
Ela cortou uma preciosa madeixa dourada,
Soltou uma lágrima mais rara que pérola,
Depois sorveu os pomos claros ou vermelhos:
Mais doces que o mel de fraga,
Mais fortes que o vinho que alegra o homem.
Mais claro que a água que escorria esse sumo;
Nunca antes provara nada igual,
Como poderia saciar-se por usança?
Ela sorveu e sorveu e sorveu mais ainda
Os frutos dados pelo pomar desconhecido.
Sorveu até os lábios ficarem doridos.
Então atirou fora as cascas vazias
Mas guardou um caroço amendoado,
E não sabia se era de noite ou de dia
Quanto voltou sozinha para casa.
(…)*
As donzelas ouviam os gnomos apregoar:
“Venham comprar os frutos do nosso pomar
Venham comprar, venham comprar:
Maçãs e marmelos,
Limões e laranjas,
Cerejas inteiras
Melões e groselhas,
Pêssegos aveludados e sumarentos,
Amoras de cabeça escura,
Vacinos livres de selvagens,
Maçãs, amoras silvestres
Alperces, morangos;-
Amadurecidos juntos
Em tempo Veranil,-
Belas tardes que voam;
Venham comprar, venham comprar:
As nossas uvas vindas de vindimar,
Romãs grandes e graciosas,
Tâmaras e abrunhos agudos,
Pêras raras e rainhas-claúdias,
Damascos e aranhos,
Provem e saboreiem
Framboesas e ribésias
Bérberis brilhantes como o fogo,
Figos de encher a boca
Limas vindas do sul,
Doces à língua e sãs à vista;
Venham comprar, venham comprar.”
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Tarde após tarde
Por entre os juncos à margem do regato,
Laura inclinava a cabeça a escutar,
Lizzie dissimulava seus rubores:
Agachavam-se juntas muito perto
No ar que arrefecia,
De braços entrelaçados, a segredar entre lábios,
Faces e pontas dos dedos dormentes.
“Fica perto” disse Laura,
Levantando a cabeça dourada,
“Não devemos olhar para os homens gnomos,
Não devemos comprar os seus frutos:
Quem sabe em que solo se alimentaram
Aquelas esfomeadas e sedentas raízes?”
(…)
Mas Laura gulosa precipitou-se a falar:
“Boa gente, não tenho moedas;
Servir-me seria roubar:
Não há um cobre na minha bolsa,
E também não tenho prata,
E todo o meu ouro está no tojo
Que se agita ao tempo ventoso
Por cima da urze de ferrugem.”
“Tens muito ouro sobre a tua cabeça,”
Responderam todos em coro:
“Paga-nos com um caracol dourado.”
Ela cortou uma preciosa madeixa dourada,
Soltou uma lágrima mais rara que pérola,
Depois sorveu os pomos claros ou vermelhos:
Mais doces que o mel de fraga,
Mais fortes que o vinho que alegra o homem.
Mais claro que a água que escorria esse sumo;
Nunca antes provara nada igual,
Como poderia saciar-se por usança?
Ela sorveu e sorveu e sorveu mais ainda
Os frutos dados pelo pomar desconhecido.
Sorveu até os lábios ficarem doridos.
Então atirou fora as cascas vazias
Mas guardou um caroço amendoado,
E não sabia se era de noite ou de dia
Quanto voltou sozinha para casa.
(…)*
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* Christina Rosseti
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O tema da tertúlia virtual deste mês é o Desejo. Resolvi colocar aqui uma parte do poema de Christina Rosseti, "O Mercado dos Gnomos", em que duas irmãs são atraídas pelo chamamento dos gnomos, tendo uma resistido e a outra caído em tentação, seguindo o seu DESEJO...
O poema é magnífico, no entanto, extenso. Colocá-lo aqui na sua totalidade poderia cansar o leitor ou fazer com que desistisse a meio.
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A Tertúlia Virtual é promovida pelo Eduardo P.L http://elunardelli.blogspot.com/ e pelo expresso da linha http://expressodalinha.blogspot.com/
Paula,
muito bom o poema, mas como disse, fez bem em não osta-lo por inteiro. Ler textos longos no monitor não é nada confortável. Parabéns!
Grande paticipação!
Valeu á pena ler, traz uma mostra de uma condição e condicional de se deixar-se alimentar os desejos.
Muito bonito seu blogue, gostei da listagem dos livros lidos, eu também estou fazendo isso. Muitas opções de sugestões tb de boa leitura, fantástica a disposição de tudo aqui. Parabéns.
Bjs e ótimo domingo pra ti.
Chris
O Mercado dos Gnomos... mais que um desejo uma tentação? Ou será que tentação é sempre desejo?
Oi Paula, parabéns pela postagem, muito bom o poema,
obrigada por sua gentil visita,
bjs
Paula, sensacional o poema escolhido por vc. Uma que segue seus desejo, realiza-os, corre os riscos em que geralmente seguirmos nossos desejam implicam.
Abrcos
De repente, fiquei com vontade de gelado de meloa.
A poesia, esse eterno meio de exteriorizar o desejo, faz milagres.
Gosyaria de ler na íntegra. Pode me indicar de onde o retirou? Parabéns pela postagem, que me acendeu o DESEJO de ler mais sobre o tema. Bjkª Elza
Olá Paula, passei só para deixar um abraço, visito sempre o teu bolg mas nem sempre tenho tempo para reflectir sobre os teus posts e de comentar.
Este poema é lindo.
Paula, muito feliz sua postagem.
Gosto muito de ler e gostei muito de conhecer seu blog.
Beijoca.
Nilda.
http://meucantin5.blogspot.com/
Paula,
Volto com mais calma para ler o seu post. Acabo de receber a sua visita e quero dar a atenção que você merece. Beijos e Obrigada.
Paula,
Escolha criativa do texto. Parabéns!
Gostaria de ler na íntegra. Pode me indicar como?
Que seus desejos se renovem a cada dia.!
Sucesso sempre!
Obrigado a todos pelo comentário neste post que teve como tema "Desejo".
Respondendo ao blog do Beagle e à Andrea Vaz:
Retirei o mercado dos gnomos da antologia poética, Os Pré-Rafaelitas, de Assírio e Alvim. É uma excelente antologia.
O poema "O mercado dos Gnomos" em inglês é magnífico. Fica um poema cheio de sonoridade, cheio de vida, parece uma canção.
Cheio de cores, deslizei;-))))
Olá Paula,
Um poema muito bem escolhido, de rara beleza. Já sabia que tinhas bom gosto!...
Ando a estranhar o teu silêncio e ausência. Nunca mais visitaste o nosso Farol que te espera sempre de portas abertas.
Um grande abraço
Excelente poema. Escorreito, saltitante, sincopado e musicado. Pelomenos é assim que o senti ao ler. Parabéns pela escolha.