"Beloved" de Toni Morrison (Opinião)
02/08/2018 by Lígia
Sinopse:
Inspirado
num facto verídico ocorrido no Kentucky em 1856, Beloved retrata o horror e a
insanidade de um passado doloroso, numa época em que o país começava a
confrontar-se com as feridas deixadas pela escravatura recém-abolida.
Neste
romance, Sethe, ex-escrava, mata a sua própria filha, ainda bebé, para que esta
escape ao destino indigno e atroz da servidão. Consegue fugir para Cincinatti,
Ohio, onde cheia de esperança pensa poder viver uma nova vida.
Mas,
dezoito anos mais tarde, coisas horríveis começam a acontecer: Sethe ainda não
é uma pessoa livre, a sua casa não só é assombrada pelas memórias torturantes
do passado, como também pelo fantasma da bebé que morreu sem ter um nome e em
cuja sepultura está gravada uma única palavra: «Beloved».
Considerado
pelo New York Times um dos romances mais importantes do século XX e vencedor do
Prémio Pulitzer, Beloved é o mais famoso livro de Toni Morrison, distinguida
com o Prémio Nobel da Literatura. Um retrato realista e pungente da condição
cruel e infame dos negros americanos durante o século XIX, narrado com
virtuosismo e arte.
Citações:
«Uma
obra-prima... magnífica, assombrosa, arrebatadora.» | Newsweek
«Extraordinária...
uma obra perfeita da literatura americana.» | The Guardian
«Magistral...
admirável... É impossível imaginar a ficção literária americana sem Beloved.» | Los Angeles Times
«Um
triunfo.» | Margaret Atwood, escritora - The New York Times Book Review
«Deslumbrante...
mágica... uma obra extraordinária.» | The New York Times
«Uma obra
poderosa... com uma escrita belíssima.» | The Washington Post
«Soberbo,
profundo e avassalador, Beloved carrega o peso da História... Uma narrativa
sublime.» | Cosmopolitan
«Um romance
para ler e reler.» | Glamour
Opinião:
Beloved
retrata a escravatura Americana. Embora seja uma obra de ficção a autora
baseou-se em factos reias, e assim vamos vivendo umas vezes no presente outras
no passado, conforme as memórias vão surgindo nas diversas personagens. Por
vezes é um pouco complexo compreender algumas partes da obra, penso que isso é
feito para que nós encarnemos as personagens e compreendamos melhor o seu sofrimento
e dramatismos, como se estivéssemos dentro das suas cabeças, de forma a
compreender esse desgaste emocional e físico, e a luta que travam para viver com
esses traumas e ultrapassar essas vicissitudes da vida.
Mais uma
vez fiquei arrepiada e com uma tristeza profunda, porque não consigo
compreender como o ser humano consegue ser tão maldoso e cruel com o seu
próximo...
Transcrevo
esta passagem do livro, que para mim diz tudo.
"Até
os negros educados - aqueles que tinham andado muito tempo na escola, os
médicos, os professores, os que escreviam nos jornais, os que tinham negócios -
até esses tiveram um difícil caminho a percorrer. Para além de precisarem de
usar a cabeça para avançar, carregavam aos ombros o peso de toda a raça. Os
brancos achavam que, quaisquer que fossem os modos, sob cada pele escura
existia uma selva. Águas rápidas e intransitáveis, babuínos que se baloiçavam
aos guinchos, serpentes adormecidas, gengivas vermelhas preparadas para o seu
sangue doce e branco. de certo modo, pensou, tinham razão. Quanto mais os
negros se desgastavam a tentar convencê-los de que eram amistosos, de que eram
inteligentes e afetuosos, de que eram humanos, quanto mais se cansavam a
convencer os brancos de algo que achavam que nem devia se questionado, mais a
selva crescia e se adensava. Mas não era a selva que os negros traziam com eles
ao chegarem àquele lugar, vindos do outro lugar (onde podiam viver). Era a
selva que os brancos tinham plantado dentro deles. E crescia. Espalhava-se. Na
vida, ao longo dela e depois de esta passar, espalhava-se, até atingir os
brancos que a tinham criado. Tocava cada um deles. Mudava-os e alterava-os.
Tornava-os sanguinários, mais estúpidos do que alguma vez o quiseram ser, tão
receosos se sentiam da selva que tinham plantado. O babuíno aos guinchos vivia
sob as suas peles brancas; as gengivas vermelhas eram as suas."
Uma obra sem dúvida alguma, muito tocante...
Parece ser um livro muito marcante, daqueles que ficam na nossa mente por muito tempo depois de o lermos. É sempre tão revoltante quando vejo filmes ou leio livros sobre a escravatura que acabo sempre a chorar. Mas, infelizmente, ainda existe discriminação nos dias de hoje, pode ser mais dissimulada ou não, mas ainda existem pessoas julgadas pelo seu aspeto ou pelo sítio de onde vêm e isso é muito triste para a Humanidade.
Mundo da Fantasia