“A Alegria de Ser Miserável” de Rute Simões Ribeiro (Opinião)
15/06/2018 by Lígia
Sinopse:
«O romance A Alegria de Ser
Miserável explora a vida de um homem de feitio rude, que
despreza o seu contexto social e a necessidade de relação com os outros.
«Se alegria houvesse, e festa se anunciasse para a celebrar, Zé era convocado por carta, para não
contaminar contentamentos». Porém, sofre uma embolia que lhe retira «a
capacidade de sentir
tristeza», ficando «impossibilitado de ficar deprimido», perdendo
«competências em ser miserável». A sua irmã Alma da Encarnação, que «teria muito para fazer nesta vida e
noutras, quem sabe, que no nome para lá tinha atalho», é uma personagem
secundária que, num inesperado
jogo de perspetivas, desenvolve uma singular densidade arquitetónica. O
protagonista, Zé da Paixão, experimenta várias profissões irrelacionáveis, numa vida que é
conduzida pelo acaso, e vem a conhecer uma mulher por quem sente uma
fixação inconsequente. Num
exercício literário que ultrapassa as habituais técnicas narrativas, a
autora faz o seu personagem central assumir a coragem de sobrepor a vontade à oportunidade,
conduzindo-o pelas suas teias mentais, dando uso a recursos narrativos
atípicos. E à medida que a
leitura se faz deixamos de ter a certeza se se trata na verdade de uma
história de amor. É uma escrita leve, mas com subtis sinais de seriedade embutidos num intuitivo e engenhoso sentido
de humor. Rute Simões Ribeiro expõe uma narrativa nova, destacando-se dela
própria e ilimitando-se numa
escrita, uma vez mais, sem grilhos e sem condicionantes.
Opinião:
O protagonista desta obra é Zé da Paixão,
personagem “castiça” que vive num despreendimento absoluto, sem a preocupação
de agradar seja quem for (por vezes um pouco frio, que pode ser interpretado
como desprezo, mas não é essa a sua intenção), sem pensar no dia de amanha,
como se vivesse num mundo paralelo ao nosso. Durante a obra vamos ouvindo e
descobrindo as suas ideias… sim, entenderam bem… as ideias que lhe vão na alma…
e as ideias que conversam umas com as outras… siiiim… o que lhe vai dentro da
sua cabeça… do seu cérebro. E o que vemos por “dentro”, demonstra o que o Zé é
por fora… uma pessoa simples (de complicada nada tem), mas não julguem que de
tão simples, despreocupado e até um pouco frio com as pessoas com que se cruza,
nas suas ideias ele não é assim tão despreocupado como parece. Na primeira
profissão em que o conhecemos (um pouco estranha até), ele despedia pessoas, e
para isso ele “pesquisava” a vida delas e fazia com que fossem elas a
despedir-se e partissem para uma profissão que lhes desse prazer e as fizesse
felizes. Na realidade ele fazia um dos maiores bens que se pode dar a alguém, enveredar pela profissão que as pode sustentar e fazer feliz. Foi
assim que conheceu a paixão da sua vida, uma paixão de carne e osso, e foi
assim que essa paixão seguiu a sua verdadeira paixão. Confusos?? Até parece um
pouco, mas quando pegarem e devorarem por simples impulso esta obra, já não o
vão achar, nem no dia em que o Zé deixa de sentir tristeza e tudo para ele é
uma alegria.
O “Ensaio sobre o Dever
(Ou a Manifestação da Vontade)”, é a primeira obra publicada desta autora, foi
uma obra que devorei e adorei até à última página. Foi uma obra que me deixou
curiosa pela chegada da próxima. Pensei cá com as “minhas ideias” que
dificilmente Rute Ribeiro pudesse ultrapassar o quanto foi maravilhosa, tanto
na forma de escrever, como na imaginação de todo o enredo… não podia estar mais
enganada. Quanto à escrita, se eu não soubesse de quem era esta obra, depressa
chegava lá (pois tem uma escrita diferente e muito própria), quanto à imaginação…. a autora tem tal como Zé da Paixão “as
ideias” sempre a fervilhar, uma imaginação soberba, que trás para o enredo
situações que dificilmente alguém se lembraria, e é isso que tanto me agrada e
me agarra da primeira à última página.
Eu ainda não o li, mas fiquei deveras curiosa. Este tipo de personagem e comportamento encantam-me. Vou comprar! Obrigada pela opinião. Se não fosse ela, não ira, decerto, à procura deste livro.
Parece interessante 😊
Olá.
Carolina E Isabel, não se vão arrepender desta leitura, é uma obra magnífica.
Beijinhos
Lígia