Uma viagem pelas águas turvas da alma humana



A Nellie, uma iole de cruzeiro, adernou para a âncora sem um só batimento de velas, e ficou em sossego.


Perturbadoramente viciante e claustrofóbica, a prosa de Joseph Conrad em Coração das Trevas é um legado do século XX. Traduzido para a Guerra e Paz por Maria João Madeira, este é um romance assombroso que nos mergulha nas profundezas da selva africana e do turvo do coração humano.
Pode dizer-se de Coração das Trevasque é a história de um homem que conta a história ouvida do homem que lha contou a ele e a quatro outros marinheiros, cedendo-lhe a palavra que escuta. A modernidade literária de Joseph Conrad começa aí, na estrutura da obra. De âmago intricado, esta obra tem os muitos níveis de leitura das suas camadas, a que o mundo foi descobrindo a modernidade, discutindo-o polémico, consagrando-o um clássico. Chega às livrarias a 25 de Outubro.
Marlow, um marinheiro experiente, parte, numa barco a vapor, em busca do Sr. Kurtz, um enigmático e enlouquecido comerciante de marfim, em direcção ao continente africano. Nesta jornada física e psicológica, rio Congo acima, entre cenas de tortura, crueldade e escravidão, Marlow questiona e reflecte sobre questões e valores da essência humana e civilizacional, o seu lado mais obscuro onde tudo é escuridão ou mito.
Kurtz resume-o na perfeição: «O horror! O horror!» Aqui levanta-se o véu do inferno colonial, dissecando-se os limites da experiência humana. O que é ser selvagem?
Este é o livro que inspirou o filme Apocalipse Now, de Francis Ford Coppola, um livro que reflecte uma visão da África colonial que os anos tornaram polémica.



Autor:
Joseph Conrad. Com o nome de baptismo de Józef Teodor Konrad Korzeniowski, nasceu na Ucrânia, em 1857, sob a autoridade czarista. Filho de um casal polaco no exílio, ficou órfão aos onze anos, ficando sob a tutela do tio materno, o responsável pela sua grande paixão: viajar por mar. Em 1874, viajou para Marselha e assim inicia a sua carreira como marinheiro. Em 1886 obtém nacionalidade britânica e o certificado de mestre no Serviço Mercantil Britânico. Anos mais tarde, aproveitando as suas experiências na Marinha, abandona o mar para se dedicar à escrita durante o apogeu do Império Britânico. Almayer’s Folly (1895) foi o seu primeiro romance.


Com grande mestria narrativa, é ainda autor de outras obras, entre as quais se destacam: Lord Jim (1900), Nostromo (1904), The Secret Agent (1907), Under Western Eyes (1911), Chance (1916). Em 1890 escreveu The Congo Diary, que viria a dar origem a Heart of Darkness (1902). Morreu em Kent em 1924.

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