Conto Inédito - Perfeitos Estranhos (Parte V)
01/08/2014 by Vasco
PERFEITOS ESTRANHOS
(Parte V)
MARIA
Fi-lo porque o amo. Sei do que ele
precisa para sobreviver. Enquanto as minhas mãos exigiram que
apertasse com força o meu pescoço, uma infinidade de pensamentos
ocorreu pela minha cabeça. Nesse momento, todo o meu passado se
desvaneceu para a história. A minha normalidade extinguira-se ao
suplicar ao meu amor que me matasse. Morreria, sim, mas sucumbiria
num momento de amor único, numa comunhão e simbiose perfeitas.
O que mais poderia dar a Adegesto que
não o seu maior sofrimento?
E quando eu sentia que as suas mãos
perdiam alguma força, eu insistia que voltasse a aplicá-la de forma
redobrada. Assim que pressenti que o ar escassearia dentro de mim,
encarei-o. Ele olhava-me aterrorizado. Mesmo assim sorri para ele. Eu
estava mais feliz do que alguma vez pensara que pudesse estar.
Ele era meu e eu era dele.
Tudo era perfeito, como eu nunca quis
que fosse até então. O nosso amor perduraria para todo o sempre.
Pensei nas dolorosas noites que
Adegesto viveria sem mim, no choro que a minha ausência lhe
provocaria ou no estado lastimável em que ficaria quando me
recordasse na sua mente agitada. Sofreria e seria feliz, mais do que
nunca. Ficaria atormentado enquanto vivesse devido à sua acção
naquele instante.
E quanto a mim, que mais podia eu
querer? Amei o mais que pude amar até que as minhas pálpebras se
cerrassem para sempre. Não casaria como os outros, não teria
filhos, não compraria casa, não viveria querendo agradar a todos
para ser aceite. Acabei por me entregar ao meu destino e guardar toda
a felicidade para mim quando senti que ia partir de vez e deixar com
o meu amor a penosa recordação daquilo que tínhamos sido.
Que amor podia ser melhor do que este
que vivemos?
Fugaz mas eterno.
***
FIM
E,assim,acaba este conto"Perfeitos Estranhos" em que tudo parecia perfeito e tudo se destrói num só momento,restando apenas para todo o sempre um dilacerante e eterno tormento!