PERFEITOS ESTRANHOS

(Parte V)

MARIA



Fi-lo porque o amo. Sei do que ele precisa para sobreviver. Enquanto as minhas mãos exigiram que apertasse com força o meu pescoço, uma infinidade de pensamentos ocorreu pela minha cabeça. Nesse momento, todo o meu passado se desvaneceu para a história. A minha normalidade extinguira-se ao suplicar ao meu amor que me matasse. Morreria, sim, mas sucumbiria num momento de amor único, numa comunhão e simbiose perfeitas.
O que mais poderia dar a Adegesto que não o seu maior sofrimento?
E quando eu sentia que as suas mãos perdiam alguma força, eu insistia que voltasse a aplicá-la de forma redobrada. Assim que pressenti que o ar escassearia dentro de mim, encarei-o. Ele olhava-me aterrorizado. Mesmo assim sorri para ele. Eu estava mais feliz do que alguma vez pensara que pudesse estar.
Ele era meu e eu era dele.
Tudo era perfeito, como eu nunca quis que fosse até então. O nosso amor perduraria para todo o sempre.
Pensei nas dolorosas noites que Adegesto viveria sem mim, no choro que a minha ausência lhe provocaria ou no estado lastimável em que ficaria quando me recordasse na sua mente agitada. Sofreria e seria feliz, mais do que nunca. Ficaria atormentado enquanto vivesse devido à sua acção naquele instante.
E quanto a mim, que mais podia eu querer? Amei o mais que pude amar até que as minhas pálpebras se cerrassem para sempre. Não casaria como os outros, não teria filhos, não compraria casa, não viveria querendo agradar a todos para ser aceite. Acabei por me entregar ao meu destino e guardar toda a felicidade para mim quando senti que ia partir de vez e deixar com o meu amor a penosa recordação daquilo que tínhamos sido.
Que amor podia ser melhor do que este que vivemos?
Fugaz mas eterno.


***

FIM

1 comentários:

    E,assim,acaba este conto"Perfeitos Estranhos" em que tudo parecia perfeito e tudo se destrói num só momento,restando apenas para todo o sempre um dilacerante e eterno tormento!

     

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