Datas que lembram livros...

22 de Junho deste ano será um dia diferente. 
Não se trata de uma data que marque uma revolução, o nascimento de alguém ou possua um simbolismo vital para a humanidade.
Este é o dia que marca pela primeira vez a ausência da Feira do Livro do Porto em mais de 80 anos. E não marca pelo facto de os editores e a Câmara Municipal não terem chegado a um consenso para a realização de tão importante evento. Não. Marca pelo facto de os autores se terem reunido e elevado a sua voz. Marca pela acção e pela vontade de levar os seus livros junto dos seus leitores.
A 22 e a 29 de Junho vários escritores estarão na cidade para receber as pessoas que os lêem. 
Não há feira, mas há escritores!


Foi com estas palavras que contribuí para o movimento:

Vagueando, de Vasco Ricardo


Fechei os olhos e comecei a caminhar,
partindo de um parque enorme que recebia os autocarros 
e que não perdia de vista homens engravatados.
Fui ao encontro daquela que já fora a construção mais alta de Portugal,
mas não a encontrei.

Atravessei a rua e desloquei-me à livraria famosa pela escadaria virtuosa;
entrei mas estava vazia.
Subi um pouco para me certificar que estava no local correcto,
Rua das Carmelitas dizia.

Prossegui para cima.
Procurei os leões que haviam fugido,
os estudantes que haviam partido,
o café de nome esquisito que me amedrontava o cabelo
e que, também ele, havia sido encerrado.

Desisti e desci,
passando por azulejos apagados pelo tempo,
até mais não conseguir.

Quis transpor o rio que a cidade banhava,
mas não havia ponte para o fazer.

Vasculhei, do lado de cá, as caves que guardavam o vinho de fama secular.
Não estavam lá,
apenas se enxergavam ruínas, pó e tristeza.

Voltei a subir,
cruzando pela casa que fora do Infante,
pelo palácio cujo pátio encantara, em tempos, gente rica de negócios,
pelo mercado que recebera todo e qualquer tipo de evento.
Ainda espreitei de soslaio a igreja que dá nome ao papa,
mas estava fechada.

Subi a correr,
ainda às cegas,
pois conhecia aquela cidade como a palma da minha mão.
E parei na avenida cinzenta, que permaneceria verde caso não tivesse sido ceifada, violada.

Abri os olhos. 
Vi miúdos, famílias e turistas;
sorrisos, leveza e entusiasmo;
vida, calor e sabedoria.
Os livros eram folheados ao sabor do vento
e as mentes eram alimentadas a cada palavra registada.

Soube então o motivo por nada ter visto.
Tinham-me dito, a mim, que parte do Porto se havia fechado.
Mas não, percebi que nunca o Porto tinha estado tão aberto, 
que não tinha procurado aquilo que tinha ser encontrado.


2 comentários:

    On 26 junho, 2013 Paula disse...

    Parabéns Vasco por esta participação! Está excelente!
    Adorei!

     
    On 27 junho, 2013 Vasco disse...

    Obrigado, pena é que não possas estar no evento! :)

     

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