Sinopse
Laura Palmer a rapariga de rosto doce de Twin Peaks escondeu as suas acções mais sombrias e os sonhos mais retorcidos num diário secreto, a partir dos doze anos... até ao dia em que foi assassinada.
O diário contém pistas importantes sobre a identidade do seu assassino. E, para os habitantes de Twin Peaks, tem início um mistério que irá obcecá-los a todos...


Opinião
Camuflado. Trágico. Melancólico.
Como todos sabem, Laura Palmer originou uma das maiores séries de culto dos anos 90. Foi o prólogo, o início, de uma vaga de produções que vai desde os Ficheiros Secreto a Lost. Falamos de Twin Peaks. Menciono isto porque é impossível dissociar este livro desta série. O diário acaba por ser o embrião de um mistério, ou de muitos mistérios, embora tenha sido concebido quando a série já estava a ser exibida na televisão.
Também é impossível não interligar o destino de Laura Palmer a David Lynch, pai da autora e co-criador destes fantásticos episódios. David Lynch apresentou uma série de trabalhos ao longo dos anos. Trabalhos esses seguidos por milhões de aficionados. Para mim, Twin Peaks é o auge do seu lado mais misterioso. Soube trabalhá-lo.
Relativamente ao livro, julgo que pode ser lido conhecendo ou não a série. Percebo que muitos dos viciados nesta série tenham ficado desiludidos porque, apesar de muita gente achar estas páginas demasiado confusas, demasiado abstractas, elas não o são. O enredo é, afinal, demasiado evidente no que concerne à tragédia que culmina no assassinato de Laura Palmer e, ainda pior, naquilo que a leva a comportar-se da forma como se comportou, na sombra de uma sociedade perfeita e na pele de uma jovem cidadã exemplar.
Os Lynch (David, o pai, e Jennifer, a filha e autora) sabem, melhor do que ninguém, que uma série de culto só é verdadeiramente de culto quando o mistério termina. Na verdade, o real sentido de culto só começa quando tudo é desvendado, quando tudo termina, e as pessoas ficam maldizendo de tudo e de todos pelo facto de o caminho ter chegado ao fim.
O Diário Secreto de Laura Palmer tem a finalidade de explicar o comportamento de Laura. De lhe oferecer uma justificação, de, na realidade, a ilibar de tudo aquilo que acabou por representar. Tem o objectivo primordial de vitimizar aquela que deixou de ser vítima após uma estranha morte aparentemente sem razão.
Mas o livro continua a revelar a extensão de Lynch (David). Continua a ser misterioso, a misturar a ficção com a não-ficção. Mas nada é assim tão confuso se formos capazes de desconstruir as mensagens. Afinal nada acontece por acaso. Laura Palmer não se tornou assim por um acaso. Laura Palmer não morreu por um acaso. O seu diário não foi redigido por um acaso.
Este é um livro brutal, repleto de humanidade e de tudo aquilo que gostamos de desumanizar mas que, afinal, só os humanos conseguem ser.
A reedição do diário desta personagem é um óptimo motivo para nos entusiasmarmos (ainda mais) com o regresso de Twin Peaks aos ecrãs, já em 2017.

0 comentários:

Blogger Templates by Blog Forum