"Hollywood", Charles Bukowski (Opinião)
07/02/2015 by Vasco
A história de um
escritor que se vê diante da oportunidade de escrever o argumento
para um filme de longa-metragem. O personagem em questão é o alter
ego do autor, Henry Chinaski, poeta e romancista de relativo sucesso
com forte queda para as mulheres e para a bebida. Esta história foi
baseada na experiência de Bukowski ao escrever o argumento do filme
Barflay (1987). Uma história que satiriza a indústria do cinema e
algumas figuras bem conhecidas do meio, compondo um retrato
irresistivelmente irreverente de Hollywood ao mesmo tempo que dá
continuidade à sua autobiografia ficcionada em vários volumes.
Opinião
Sardónico.
Auto-destrutivo. Corrosivo.
“Hollywood” de
Bukowski, tal como a maioria dos seus romances, fala dele mesmo e das
suas experiências e vivências, sob a perspectiva do personagem
Chinaski. Este ponto constitui em si um óptimo chamariz para a
leitura do livro, não só pelo estilo de vida que o autor sempre
levou, como pela forma como ele via o mundo e, fundamentalmente, as
pessoas. Curiosamente, ao contrário do que aconteceu em “Correios”
– também ele com Chinaski como protagonista, embora numa fase
ainda jovem da sua existência –, Bukowski mostra um grande
respeito pela mulher com a qual partilhava a sua vida no momento,
levando-me a crer que foi de facto o seu grande amor. Ela parecia ser
o seu equilíbrio, a pessoa que o aconselhava, que ele ouvia –
provavelmente a única que ele conheceu –, que não o proibia de
beber – o tema fulcral da obra – nem de dizer o que lhe ia na
alma, mas que lhe colocava um permanente travão. Afinal, naquela
fase, Bukowski já não era uma criança. Imagino que ele diria que
era uma criança sexagenária na data.
O enredo desenvolve-se em
redor de um argumento que Bukowski decide elaborar para um filme. Um
filme sobre si mesmo, na altura em que passava a vida nos bares. Esta
película realmente saiu para o grande ecrã, em que Mickey Rourke
fez o papel de Chinaski – ou Bukowski.
Portanto, toda a história
passa-se em volta dos caprichos dos actores, dos devaneios dos
produtores e realizadores, dos avanços e recuos do financiamento
para a elaboração do filme e do dia-a-dia do próprio Bukowski, que
nesta altura da sua vida consistia em escrever, beber e pouco mais,
talvez morrer lentamente.
Em determinadas partes, o
autor arrasa a mentalidade humana, assim como a sociedade; e, a certa
altura, fulmina completamente os seus colegas escritores.
De todas as partes que
compõem este livro, o início é absolutamente delicioso, quando
Chinaski aceita escrever o guião, com o único propósito de ter
bebidas de borla aquando das reuniões com os produtores e
realizadores, depois de ter ficado altamente impressionado com a
qualidade e quantidade das garrafas que lhe foram apresentadas.
Confesso que não gostei
tanto de “Hollywood” como gostei de “Correios”, mas, ao que
parece, Bukowski era da mesma opinião, ao afirmar que ele mesmo era
um autor em decadência. Algo, porém, que não concordo, porque para
mim foi dos melhores.
Esse é o livro menos bem conseguido, Vasco. Ainda ssim eistem reparos mordazes e inteligentes. Gosto bastante de Bukowski.
Todos os outros são muito bons,os de peosia incluídos.Na minha opinião, devem ser lidos no original, em português perde-se demasiado, ainda que a tradução seja bem feita.