"O Oficial e o Espião", Robert Harris (Opinião)
12/09/2014 by Vasco
Sinopse
Este
romance baseia-se, tão ao gosto do autor, num caso histórico que ficou como
exemplo de injustiça, corrupção e preconceito e em que se envolveram muitas
outras personalidades históricas bem conhecidas. Trata-se do drama cuja
personalidade central foi Alfred Dreyfus, acusado de ter vendido informações
aos serviços secretos alemães, que foi condenado e deportado para Ilha do
Diabo, na Guiana Francesa. Robert Harris narra-o na primeira pessoa, pela voz
de um oficial de nome Picquart, uma figura discreta na vida real, mas que aqui
se transforma na figura principal. Este personagem vem a descobrir a inocência
de Dreyfus e persiste em repor a verdade dos factos, sofrendo com isso pesadas
consequências.
O Oficial e
o Espião pode ser lido como um
magnífico thriller histórico que recria de modo convincente um dos mais famosos
casos de corrupção judicial.
Opinião
Intrigante.
Fluido. Interessante.
De toda a obra de Robert Harris traduzida
para português apenas me falta ler “Lustrum”, a continuação da brilhante narrativa
sobre Cícero, também publicada pela Editorial Presença, que já está nas
estantes lá de casa. Isto diz muito acerca do meu sentimento relativamente a este
autor. É, a meu ver, o melhor historiador/ autor dos últimos tempos.
Em “O Oficial e o Espião” as
personagens, oficiais do exército francês, estão enquadradas numa sociedade
altamente instável, rodeada de inimigos e de gente que não sendo considerada
inimiga o poderá ser. É nesse panorama que o protagonista se vê envolvido, mais
ainda quando se vai apercebendo que os culpados poderão afinal não ser assim
tão culpados e que não existem inocentes quando o tema do jogo que nele é peão se
baseia na política da Europa.
Todo o enredo vai decorrendo sem
sobressaltos e os novos dados são-nos apresentados lentamente, quase como se
fosse a ordem natural dos acontecimentos. Esta situação é, aliás, uma
característica do autor comum em todos os seus livros.
Nesta história verídica Robert
Harris coloca o dedo em muitas feridas, autênticos cancros sociais dos finais
do século XIX, que, curiosamente, persistem nos dias que correm. Fraude, antissemitismo,
corrupção, influência de interesses, traição, justiça, ocultação de factos são algumas
ocorrências que o autor explorou e que acabaram por manchar a História recente
da França.
Não sendo o meu livro favorito de
Harris, aconselho a sua leitura, principalmente para quem gosta de espionagem,
intrigas e História.