"A Rainha do Cine Roma", Alejandro Reyes (Opinião)
19/08/2014 by Vasco
No dia em que se
conhecem, Maria Aparecida e Betinho, duas crianças de rua em
Salvador da Bahia, tornam-se inseparáveis. Vítimas de abusos por
parte dos pais, fazem do Cine Roma a sua casa, e da amizade que os
une, um antídoto para combater a dura realidade de quem vive a fugir
de sombras ameaçadoras.
No ambiente de violência
das ruas, os dois amigos vão crescendo e, um dia, os seus caminhos
separam-se. Betinho vai para o Rio de Janeiro com um namorado e Maria
Aparecida fica a viver numa igreja abandonada com outros
desabrigados. Magoada pelo abandono do amigo, e na esperança de se
reconciliar com a sua memória, decide regressar a casa para tomar
conta do pai. De volta à rua, começa a prostituir-se, cruza-se com
Creuza e desce ainda mais fundo ao inferno.
Betinho, agora Roberta, regressa a Salvador para reencontrar Maria Aparecida, desencontrada de si, perdida nos excessos. Entre exorcismos de mágoas, abraços de saudades e lágrimas, voltam a viver juntos. Nem a presença de Creuza, nem mesmo Chico, um poeta com quem Maria vive um amor proibido, consegue separar os dois companheiros de solidão e retirar-lhes a única coisa que ainda os faz viver: a esperança. Um romance sobre a vida real no submundo urbano baiano. Uma história sobre duas crianças que um dia sonharam que podiam ser amadas.
Betinho, agora Roberta, regressa a Salvador para reencontrar Maria Aparecida, desencontrada de si, perdida nos excessos. Entre exorcismos de mágoas, abraços de saudades e lágrimas, voltam a viver juntos. Nem a presença de Creuza, nem mesmo Chico, um poeta com quem Maria vive um amor proibido, consegue separar os dois companheiros de solidão e retirar-lhes a única coisa que ainda os faz viver: a esperança. Um romance sobre a vida real no submundo urbano baiano. Uma história sobre duas crianças que um dia sonharam que podiam ser amadas.
Opinião
Duro. Violento. Dramático.
“A Rainha do Cine Roma”
é um livro bombástico, deveras chocante. Só assim pode ser
descrito, por muito que nos cheguem testemunhos da realidade das ruas
do Brasil – como eventualmente de outros países da América Latina
–, através de documentários ou da recente vaga de filmes que
exploram a crueza desse lado do mundo e da vida daqueles que nele
habitam.
Esta história incide
sobre a vivência de várias personagens, que parecem carregar com
elas todos os pecados que podem caber num só corpo humano. Na
verdade, pecados aos olhos da sociedade, porque aquilo que elas
carregam são estigmas, azares consequentes da aleatoriedade do
universo que o Homem jamais terá capacidade, nem sequer vontade, de
mudar. O autor faz-nos ver que as personagens são boas no seu
íntimo, embora incapazes de quebrar as barreiras que lhes são
impostas desde tenra idade. E quando nos é dado a entender que
conseguem uma vitória, mais um desafio lhes é imposto, daqueles que
são impossíveis de ultrapassar. A vida destas pessoas é vivida
numa espécie de montanha em constante derrocada, onde a cada metro
escalado com custo acabam por se afundar três ou quatro, rumo ao
abismo.
Drogas, prostituição,
homossexualidade, educação, violência, pedofilia, incesto,
pobreza. Tudo isto está descrito nestas páginas de um modo tão
frio quanto o enredo narrado na primeira pessoa pode oferecer.
Trata-se de um excelente
livro, onde a perseverança persiste, assim como o estranho fado que
acompanha aqueles que nada têm.
Uma sinopse aliciante que convence qualquer leitor a pegar nesta obra que promete ser uma soberba leitura,fazendo-nos reflectir no mundo em que vivemos ,apesar de a maior parte de nós, estar tão longe da verdadeira e profunda realidade aqui descrita magistralmente pelo Vasco.
Recordas o meu comentário quando divulgaste este livro?
É mesmo uma escrita dura sem filtro.Perturba. Faz reflectir.
Abraço grande
Sim, recordo-me perfeitamente.
É verdade, Argos. Não há qualquer filtro. Aliás, todo o livro é uma espécie de desabafo permanente. Um desabafo de revolta e provocador.
Abraço :)