1984, George Orwell


Opinião:
Escrito por volta de 1950, George Orwell apresenta-nos uma história na qual domina uma ditadura em Inglaterra no ano de 1984.

Temos uma história que é uma visão do que teria sido a Europa se Estaline tivesse continuado no poder ou se os seus ideais tivessem seguidores. Quando este romance foi escrito, o referido ditador exercia na Rússia um poder que provocou milhões de mortos e milhões de presos políticos. George Orwell projecta estes acontecimentos para um futuro próximo e simula a pior das ditaduras – aquela que para além de privar o homem das acções livres também priva o homem da liberdade do pensamento!

Ao contrário das ditaduras “comuns”, aqui a tortura não tem por objectivo fazer confessar, mas essencialmente modificar o pensamento, modificar o homem!

[“Eles não podem entrar dentro de uma pessoa” dissera ela, mas podiam] pág 291

Uma sociedade em que tudo e todos são vigiados, há um grupo que, por opção do partido, pode divertir-se e não é vigiado a toda a hora – os proles – os trabalhadores. E porquê? Porque para produzir é essencial estar satisfeito e a produção é fundamental. E na óptica do nosso personagem, se há salvação para a ditadura em que vive, a solução está nesta gente que trabalha. Não só porque não são vigiados a toda a hora, mas porque produzem e a sociedade depende deles. Assim, o povo é visto como aquele que detém o poder da mudança, mas atenção, tem o poder da mudança quando organizado para tal.

Gostei, reconheço a importância da obra, mas confesso que esta foi uma leitura que não me deslumbrou.

Sinopse:
1984 oferece hoje uma descrição quase realista do vastíssimo sistema de fiscalização em que passaram a assentar as democracias capitalistas. A electrónica permite, pela primeira vez na história da humanidade, reunir nos mesmos instrumentos e nos mesmos gestos o trabalho e a fiscalização exercida sobre o trabalhador. O Big Brother já não é uma figura de estilo - converteu-se numa vulgaridade quotidiana

11 comentários:

    Paula,
    estranhos são os tempos em que vivemos quando dou por mim a pensar que essa primazia dada ao povo que trabalha seria muito bem vinda no nosso mundo...
    :)
    Abraço.

     

    Pois :)

     

    Tenho este livro na calha... para breve... li o teu comentário com atenção... imagina por exemplo que Hitler, tinha conseguido levar a sua avante? será que o mundo seria hoje como o conhecemos?
    bem terei mesmo de ler este livro para podermos falar depois mais concretamente. Beijinhos. Boas Leituras

     

    Escrito em 1948; daí muitas pessoas acreditarem que o título tem origem no reverso dos dois últimos dígitos de 1948: 1984, mas não se sabe ao certo o porquê.

    1984 NÃO é uma visão de como teria sido a Europa se Estaline tivesse continuado no poder. É um regime totalitário, sim. Mas mais que baseado num regime específico, Orwell inspirou-se no clima de Guerra Fria; no romance existem 3 blocos (3 regimes), embora a acção, descrição, só decorra num deles.

    Por último, o facto de os proles não serem vigiados não tem relação com querer motivá-los. De facto, os proles são sub-humanos - e só não são vigiados nos locais onde vivem - ou assim crêem. Não têm o aparelho (TV?) de vigilância do Grande Irmão - mas são vigiados por outros meios. Repara no facto que quando o personagem principal e a «amante» saem das zonas vigiadas - vem-se a saber mais tarde - nunca deixaram de estar vigiados. Eles «não» são vigiados e podem divertir-se porque, implicitamente, pela miséria em que vivem, desconhecimento, alienação, analfabetismo, embrutecimento, não se considera que representem algum perigo. Assim não precisam de ser vigiados, apenas é preciso tê-los sobre «controlo».

    Eles não precisam de ser doutrinados na «novilíngua» do Partido do Grande Irmão, porque é implícito que eles não pensam - ora o objectivo último da novílingua é acabar com o pensamento; reduzir as palavras até um ponto em que não exista a possibilidade de pensar de maneira diferente, e por fim, reduzi-las até a um ponto em que apenas o essencial, do ponto de vista do partido, seja «pensável», nada mais. Pelo que escreves no post fica-se com a ideia de que se valorizam os trabalhadores. Tal é completamente incorrecto.

    Bjs.

     

    André,
    Obrigado por deixar a sua opinião, apesar de achar que esta está com um tom um tanto ao quanto desagradável. Por que razão a sua há de ser a certa e a minha a errada? É um livro, eu li, interpretei, foi o que me pareceu logo é a opinião que dou. Vale o que vale, a sua vale igualmente o que vale.
    Este local é um local de partilha e aceito todas as opiniões que queiram dar desde que seja na base da troca de informação sem nada impor!

     

    Nuno Chaves,
    Acho que vais gostar :)

     

    Paula, apenas quis partilhar factos. Se o tom parece desagradável, as minhas desculpas. Porém, dizer que é baseado naquilo que a Europa seria se Estaline continuasse no poder, não é de todo interpretável, ainda que também o tenha sido baseado no regime Estalinista. A data em que foi escrito é conhecida, apenas quis partilhar a data exacta, mas claro que não é incorrecto dizer por volta de 1950.

    Por último, e o mais importante, não encontro nada no romance que possa conduzir à interpretação que os proles se possam divertir e possam não ser constantemente vigiados para estarem motivados - ou pelo menos no sentido em que o partido, de algum modo, valoriza os trabalhadores - ou o seu trabalho. A última vez que li 1984 já foi há mais de um ano; posso, é claro, estar enganado.

    Mais uma vez peço desculpa se o meu tom parecer desagradável - não é de todo a minha intenção.

    Bjs.

     

    A minha opinião sobre o livro é bastante idêntica à da Paula.
    O maior mérito de Orwell foi ter construído todo um sistema político de forma que o leitor o reconhece como possível: essa é a maior força do livro, a tenebrosa sensação de viabilidade de um tal sistema.
    A manipulação da história sempre foi um poderoso meio de fabricar justificações para a ditadura; aqui, na imaginária (ou nem tanto) Oceânia todo o passado é reescrito, para que o presente seja justificado na “verdade oficial” sempre construída à medida dos interessas do regime. Tudo é transformado, adaptado, de forma a eliminar todo e qualquer vestígio de pensamento autónomo. O ideal seria mesmo o “patofalar” (como se diz na língua oficial da Oceânia – a novilíngua). Trata-se de falar sem sair do trivial; sem qualquer raciocínio ou opinião. Só assim se respeitaria a ortodoxia, porque “ortodoxia é ausência de pensamento”. Neste como noutros pormenores o leitor pensa no paralelismo com as “democracias” atuais… o ideal é que os “proles” (85% da população) se limite a trabalhar e reproduzir-se. Mesmo assim sem qualquer prazer, porque o prazer retira as energias necessárias ao culto do regime.
    Como acontece em qualquer outra ditadura, a propaganda e a repressão são os pilares do sistema. No entanto, o aspeto radical da obra reside nisto: propaganda e repressão atingem limites inacreditáveis: a propaganda deve refazer por completo toda a personalidade do súbdito: a Winston é retirado tudo o que o carateriza como ser humano: pensamentos mas também sentimentos. Tudo é reescrito na alma até que o súbdito ame profundamente o Grande Irmão. Para esse fim a repressão reforça o poder da propaganda: uma repressão capaz de destruir corpo mas também alma.
    A Oceânia vive em guerra permanente e pouco importa contra quem; apenas importa que haja guerra porque ela fornece uma razão de ser ao sacrifício individual e à perpetuação do poder. Júlia, a resistente apaixonada por Winston, suspeita que os bombardeamentos da cidade sejam perpetrados pelo próprio governo, para intimidar o povo e manter o ódio ao inimigo. Aliás, toda a sociedade funciona com base no ódio; as próprias crianças são educadas no sentido de cultivarem a delação e a vigilância constante sobre os adultos.
    Em suma, trata-se de uma leitura dolorosa, onde a ficção alimenta no leitor o choque do possível e mesmo de certos aspetos da realidade atual; uma perspetiva pessimista, quase escatológica da humanidade. Um livro que marcou a história da literatura, não tanto pela qualidade literária – que não é excecional – mas pelo significado político e mesmo filosófico do enredo.

     

    Esta critica literária suscitou-me imenso interesse a leitura desta obra.

     

    Olá André,
    Pazes feitas :D
    Quando eu tiver um tempinho vou reler com mais atenção a parte que fala dos proles para ver se entendo de outra forma :)

    Manuel,
    Obrigado pela tua contribuição

    Guiomar Ricardo,
    Já tem várias perspectivas da obra :)
    Quando ler, se quiser deixar aqui a sua opinião está à vontade :)

     
    On 11 março, 2013 Loot disse...

    Ainda sobre os proles, se me permitem, não podemos esquecer que constituem 85% da sociedade, faz todo o sentido que caso se queiram revoltar tenham o poder para isso, isso contribui para o Winston dizer que se há esperança está no proletariado.

    Proletariado este que é mantido na ignorância, e cujas emoções tb são canalizadas no clima de guerra. E claro que o nível de vigilância não se pode comparar com a classe média (outer party) da qual pertence Winston, mesmo que exista. Mas ambas as classes vivem em condições e têm propósitos bem distintos.

    Este clima de guerra é tb de grande importância nesta sociedade. No fundo há uma série de factores, desde a vigilância, à novalíngua, ao controlo do passado (He who controls the past controls the future. He who controls the present controls the past), que juntos contribuem para o grande objectivo do partido que é o manter do poder político, a criação de um regime totalitário permanente e que não caia eventualmente, como todos até à data.

    Adorei o livro, acho que tem uma construção excepcional e é de leitura obrigatória.

    Mas, sobre isto desenvolvi mais aqui: http://alternative-prison.blogspot.pt/2013/03/nineteen-eighty-four.html

    cumprimentos

     

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