O Ano Sabático, João Tordo
24/01/2013 by Paula
Opinião:
Este foi um livro cuja leitura me
deixou pensativa por algum tempo depois de a terminar. E pensativa porquê??
Porque li as primeiras 200
páginas sem sentir nada pelo personagem nem pelo enredo. Isto foi o que me
aconteceu. O livro está muito bem escrito, mas ao longo da leitura comecei a
pensar que não me prendia, parecia que lia de forma linear sempre à espera que
algo acontecesse e nada acontecia de facto.
Nas últimas 5 páginas, aconteceu
o inesperado – agarrei-me ao livro, senti naquelas páginas o que não tinha
sentido nas duzentas anteriores. Naquelas cinco páginas olhei a angústia, as dúvidas,
os reencontros, as saudades e principalmente a falta de respostas para com aqueles
personagens que ao longo da narrativa eu não havia sentido nada…
O que quero dizer é que no fim,
todo o romance começou a fazer sentido. Tive de reler algumas partes, pensar
noutras para então captar a mensagem das palavras que compõem este livro .
A história em si, fala de um
músico de jazz - toca contrabaixo - que depois de algumas dificuldades como pessoa e
como profissional decide tirar um ano sabático e ficar junto da família em
Lisboa. Porém, ao invés de se organizar e de encontrar a sua paz interior, Hugo
vai encontrar uma parte de si (o seu possível gémeo) que lhe multiplicará os
problemas. Hugo passará a ser uma pessoa incompreendida pelos outros e até por
si mesmo. O seu mundo começa a deixar de fazer sentido quando se sente traído,
roubado e até abandonado por aqueles que mais ama.
Este é um livro que trata na sua
essência a música, das composições, da paixão e das frustrações que um músico
pode sofrer por não conseguir atingir os seus objectivos ou simplesmente por
não ser entendido pelos outros. Talvez também porque quem ama o que faz, muitas
vezes, não se consiga fazer entender…
O amor pelos instrumentos musicais
está aqui também patente. O contrabaixo é aquele que adquire maior relevo,
talvez porque João Tordo também toque este belo instrumento que se assemelha à figura feminina … há outro elemento que achei
curioso e que tem a ver com a vida do autor - nesta história, a acção principal
gira à volta de gémeos e João Tordo também é gémeo…
No final tive a sensação de que
esta foi uma história que o autor escreveu essencialmente para si e para os que
partilham o gosto pela música, por esta arte que às vezes é estranha aos
outros. Estranha não pelo facto dos outros não gostarem de música, mas por não
estarem inteirados das barreiras que se colocam e que se estabelecem para quem
inicia e tem pretensões de chegar mais longe. Sim, estou a falar de música
neste caso concreto, mas também poderia estar a falar da escrita… dos novos
autores… ou de muitas outras coisas mais, porque barreiras e obstáculos é o que
não tem faltado ultimamente a quem quer vencer!
Paula,
é curioso porque estou a ter o mesmo relacionamento com o Banho de Sangue. Perdão, Meridiano.
Gosto de boas histórias. Gosto de bons exercícios de escrita desde que inseridos numa história que os sustente. O livro de Cormac está-me a parecer um excelente exercício de escrita com uma história muito fraca. Estou sempre à espera que surja algo de novo mas até agora não sinto qualquer ligação com o livro.
Resta-me esperar pela página 200...
:)
André Nuno, eu gostei muito deste livro, no entanto é um tanto duro, violento. Lembro-me que durante a leitura tive de ter uma atenção redobrada devido às descrições que são imensas.
Adorei esta opinião.
André Nuno, no meu comentário anterior referia-me ao livro que agora lês "Meridiano de Sangue"
Vasco,
Faltou dizer algo mais, penso que quando tentamos escrever o que pensamos sobre um livro fica sempre algo por dizer :P
Fico feliz por teres gostado.
Olá Paula,
Será uma "característica" do autor?
Li um livro dele em que quase ia "adormecendo" em algumas páginas, mas no fim "acordei"!
abraço grande
Li-o recentemente e gostei:
http://numadeletra.com/27771.html
Cumprimentos