Opinião:
Fernando Évora brinda-nos com uma história passada no Alentejo, onde os personagens, provenientes do meio social pobre lidam/enfrentam os problemas do seu dia a dia tentando resolver o que muitas vezes não tem resolução possível!
Caminhamos, nesta leitura, por um Alentejo que cheira a terra e a pobreza, mas esta pobreza é também e essencialmente de espírito. Embarcamos nos sonhos de Dolondina, menina mulher que em criança guarda as porcas-saras numa caixa de sapatos. Guarda-as e vai substituindo uma a uma conforme secam. Estes bichos abundavam por aquela terra, tal como os sonhos de Dolondina, que os ia substituindo sempre que morriam, como fazia com as porcas-saras. As palavras, trocar, substituir, prescindir, fazem parte da vida desta personagem que desde cedo viu o seu nome “Gonçala” substituído por Dolondina Inácio. Este sim, tinha vindo para ficar e nunca mais ser trocado, assim como o seu destino.
Toda a história gira em torno de Dolondina: um tio que a cobiça, uma tia que se apaixona pelo seu pai (Avelino Comichão), uma mãe, Esperancinha, que é engolida pelo poço, uma avó (poetisa do povo que até dá entrevistas) e que a faz prometer escrever um livro de poemas em sua memória. Uma avó que sempre sonhou ser enterrada num lindo caixão e que a ingenuidade da neta e a maldade do genro deitaram tudo a perder…
Gostei da escrita de Fernando Évora, uma escrita segura onde a ironia e o vocabulário usados fazem todo o sentido e enriquecem de tal forma o texto que às tantas estamos a ler verdadeiramente alheios ao que se passa à nossa volta e só a história nos capta toda a atenção…
Aconselho este livro sem reservas, pois esta é uma EXCELENTE leitura!

Sinopse:
Uma velha quase analfabeta que rima as palavras em quadras e décimas; uma menina que desperta os apetites sexuais de um tio; uma mulher com medo do escuro; um homem que faz malabarismos com um palito na boca; um galinheiro, um poço, um sobreiro, uma caixinha de cartão.
Personagens inesquecíveis e cenários decrépitos de uma história que tem lugar no Portugal do século XXI, num interior esquecido.
Usando uma finíssima ironia e revelando um domínio perfeito da «arte de bem escrever», o autor conta-nos uma história de alentejanos, pobres, rurais, que no fundo se confrontam, num dia-a-dia feito de riso, raiva e desassossego, com problemas que também são nossos: a violência doméstica, o suicídio, o incesto, a desertificação do interior, a crise de valores.
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SOBRE O AUTOR:
Fernando Évora. Nasceu em Faro, em 1965. Tem-se afirmado como autor de contos, modalidade onde já obteve vários prémios literários. Além de alguns textos dispersos e incursões na literatura infantil, publicou uma pequena novela histórica, A fonte de Mafamede, e uma quase-fábula, Como se de uma fábula se tratasse.

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