"O Livro" aquele que para mim é único - Vai Aonde Te Leva o Coração, Susanna Tamaro
10/12/2011 by Paula
Lurdes Breda nasceu no concelho de Montemor-o-Velho. Frequenta o curso de Línguas e Literaturas Modernas – Variante Estudos Portugueses, da Universidade Aberta. Foi premiada em vários certames literários nacionais e internacionais. É autora de treze obras e coautora de outras sete (cinco das quais editadas no Brasil). Participa em atividades que visam a promoção do livro e da leitura. Colabora em revistas e em jornais de âmbito nacional e regional. http://lurdesbreda.wordpress. com/
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"Cresci com a paixão dos livros. Não lhes resistia. Sentia que me desafiavam a descobri-los. Eu perdia-me ─ ou encontrava-me, não sei bem ─ dentro deles, completamente alheada ao que me rodeava. Ainda hoje é assim.
Cada livro é especial à sua maneira. Com frequência, a impressão que um livro me causa depende do meu próprio estado de espírito e da maneira como me sinto perante a vida. O simples facto de estar a chover ou a fazer sol, estar feliz ou infeliz, influencia a minha leitura e a predisposição com que a faço. Inversamente, um livro também é capaz de influir na minha forma de estar e de ser.
Já li quase todos os géneros e um grande número de autores. Se há livros que me marcam pelo valor e requinte literários, há outros que me seduzem pelos sentimentos que partilham comigo ou que me despertam. “Vai Aonde Te Leva o Coração” de Susanna Tamaro é um desses casos.
Sem que o consiga explicar, existem coisas que perduram em mim muito para além do tempo e do espaço. Que me marcam. A impressão que este livro me causou, permanece dentro de mim, mesmo vários anos depois de o ter lido.
Nas palavras de uma mulher ─ estrutura narrativa adoptada pela autora ─ desfilam três vidas bem distintas e, contudo, tão intimamente ligadas. Três gerações de mulheres da mesma família, que inevitavelmente se sucedem e se cruzam, mas que, salvo os laços que as unem, se movem em diferentes palcos da vida.
O amor, a falta dele e o conflito de gerações são a base que alimenta esta obra. A ligação afectiva e incondicional que uma avó nutre pela neta e a distância que as separa, levam-na a escrever uma espécie de diário, em cartas que nunca chegarão ao destino. Nessas cartas, ela desvenda a história da família, de forma sofrida, porém, serena e cheia de maturidade.
A riqueza de sentimentos, a escrita sensível, a sabedoria e a experiência de vida que a autora oferece à nossa descoberta, tornam este romance numa prosa poética ou talvez numa enorme poesia em prosa...
Os seus relatos são, por vezes, tão repletos de ternura e de simplicidade, que chegam a doer na alma.
A vida e a morte vagueiam nas suas palavras natural e subtilmente.
Para Susanna Tamaro, uma árvore ou uma rosa são entidades vivas, que adquirem personalidade própria: [... tocar numa árvore não é diferente do que tocar em qualquer outro ser vivo...], [... as raízes fazem-na estar mais perto do coração da terra do que qualquer outra coisa, a copa fá-la estar mais perto do céu].
Eu, que respiro e me alimento da Natureza para escrever, mais seduzida fiquei por estes sentimentos.
Também é benevolente e afectuosa com os animais e com as aves. Tanto, que senti vontade de afagar e mimar o Buck […o hóspede mais infeliz e mais feio dos duzentos que havia no canil.].
Conhecedora de uma certa psicologia e comportamento humano, Susanna Tamaro baseia-se inúmeras vezes em elementos naturais para, através de comparações e de personificações, alcançar pensamentos mais profundos e de carácter filosófico.
Este livro fala sobretudo de sentimentos, vai provavelmente do amor ao ódio, mas é o amor relatado de uma maneira comovedora, a expressão dos afectos no seu aspecto mais intrínseco. Sempre actual, pela mensagem que encerra.
[E quando à tua frente se abrirem muitas estradas e não souberes a que hás-de escolher, não metas por uma ao acaso, senta-te e espera. Respira com a mesma profundidade confiante com que respiraste no dia em que vieste ao mundo, e sem deixares que nada te distraia, espera e volta a esperar. Fica quieta, em silêncio, e ouve o teu coração. Quando ele te falar, levanta-te, e vai para onde ele te levar.].
Para ler, reler e voltar a ler outra e outra vez…"
Lurdes Breda