“Passagem Para a Índia” de E. M. Forster (Opinião))
07/12/2017 by Lígia
Sinopse:
Adela Quested chegou à cidade indiana de Chandrapore para casar.
Acompanhada pela Sr.a Moore, tornam-se amigas do Dr. Aziz, que se oferece para
lhes mostrar as Grutas Marabar. Mas quando exploram as grutas ocorre um
acidente, e Aziz é acusado e detido. Enquanto o médico aguarda julgamento, a
opi- nião dos britânicos e dos súbditos indianos divide-se entre a sua culpa e
inocência, e as tensões surgidas ameaçam transformar-se em violência.
«Um dos romancistas ingleses mais estimados do seu tempo.»[The Times]
«De uma enorme mestria.»[Anita Desai]
Opinião:
Passagem para a Índia, é uma obra do escritor britânico E.
M. Foster, publicada pela primeira vez em 1924. Em 1984 David Lean, produz
o filme baseado neste livro.
Esta obra está divida em três partes.
Na primeira parte “Mesquita”, Adela Quested e a Sra. Moore
chegam à Índia (à cidade de Chandrapore) vindas de Inglaterra, para se
encontrarem com Ronny Heaslop que é magistrado nesta cidade. Ronny Heaslop é
filho da Sra Moore e noivo de Adela Quested.
Aziz Ahmed é médico no Posto Administrativo Britânico, e conhece a Sra.
Moore numa mesquita, mais tarde encontram-se por intermédio do Sr. Fielding,
diretor do Liceu Governamental.
Ao longo desta primeira parte o leitor fica ao corrente do conflito e dos
preconceitos que se estabeleceram entre estas duas culturas tão diferentes,
assim como dos conflitos entre os próprios Indianos de diferentes religiões.
A sensibilidade e a atitude livre de preconceitos das duas senhoras em
relação ao povo Indiano, faz com que Aziz se afeiçoe a elas. Quando estas
demonstram interesse em conhecer a verdadeira “Índia”, Aziz oferece-se para
organizar uma excursão às remotas Cavernas de Marabar.
Na segunda parte “Grutas” é a onde se desenrola toda a “tragédia”, a
excursão acontece, mas durante o passeio às grutas há um mal entendido, e Adela
julga ter sido atacada por Aziz. Quando Aziz regressa à cidade é preso, e vai
ser julgado. Todos este acontecimentos vão gerar grande tensão entre Indianos e
Ingleses.
Durante o julgamento para consternação dos supostos amigos Ingleses
de Adela, esta acaba por mudar o seu depoimento e inocenta Aziz. Tudo isto
faz com que a comunidade Inglesa fique mal vista e que o conflito entre as duas
culturas aumente.
Adela é abandonada pelos “supostos” amigos e o único que a ajuda é o Sr.
Fielding. É aqui que novo mal entendido acontece e Aziz sente-se traído pelo
amigo, acabando por abandonar a comunidade anglo-indiana.
Na terceira Parte “Templo” o leitor fica a par das festas religiosas do
povo Indu e a reconciliação e os mal entendidos entre Aziz e Fielding
resolvem-se.
Ao longo desta leitura, vamo-nos
apercebendo desde o início, dos conflitos e antipatia entre a cultura ocidental
e oriental. A forma como o autor nos descreve certas atitudes que os ingleses
têm para com o povo colonizado, faz-nos ter um certo sentimento de revolta,
porque estes se comportam como se estivessem no país deles e tudo lhes
pertencesse, e os Indianos não sobrevivessem sem eles. O autor acaba por dar
razão a um certo rótulo que este povo ainda hoje tem na vida real, tanto que
numa conversa entre a Sra. Moore e o filho, chegam a dizer o seguinte:
"...
- Os teus sentimentos são os de um deus
- retorquiu ela muito depressa. Todavia eram os modos do filho, não os
sentimentos, o que mais a aborrecia.
Tentando recompor-se, ele disse:
- A Índia gosta de deuses.
- E os ingleses gostam de armar-se em
deuses.
- Isso agora não interessa para o caso,
acabemos com a discussão. O facto é que este país tem de nos tolerar, deuses ou
não deuses.
..."
Quando Iziz, é “condenado” ainda sem ter sido julgado, e a Sra Moore é
afastada, por se aperceberem que esta acha Aziz inocente, o autor consegue mais
uma vez transmitir o tal sentimento de revolta, por julgarem uma pessoa pela
sua cor e origem. Mais tarde consegue-nos pôr do lado de Adele, quando esta
demonstra arrependimento e todos lhe viram as costas. Outro sentimento ambíguo
transmitido, e que nos faz estar desta vez ao lado dos ingleses, é no fim do
julgamento, quando os tumultos causados pelos hindus fazem-nos temer pela vida
dos anglo-indianos. Esta disparidade de sentimentos que o autor nos
consegue transmitir é admirável, compreendendo-se porque este e esta sua obra, foi tão admirada quando foi publicada.
O que me chamou também a atenção e que até me fez ter vontade de conhecer
este país, foram as descrições das paisagens e costumes religiosos.
Mesmo quando ele descrevia uma paisagem desprovida de beleza, conseguiu aguçar
a minha curiosidade, e na última parte a festa/culto religioso de krishna foi
soberbo.
Uma obra riquíssima de sentimentos e cultura.
O livro aqui na editora.