"Onde Todos Observam", Megan Bradbury (Opinião)
07/09/2016 by Vasco
Sinopse
Um romance em forma de
carta de amor a Nova Iorque, escrito a partir das vidas dos homens e das
mulheres que a fazem - as suas vozes e obras de arte são urdidas com tal
sensibilidade da autora, que a cidade se eleva das páginas do livro perante os nossos
olhos: complexa, tentadora, sempre mutável.
1967. Robert
Mapplethorpe sabe que é artista. Na sua casa de infância, em Queens, anseia
pelo calor, pela excitação da cidade, pelos corpos de outras pessoas. Quer ser
visto, quer ser célebre.
1891. Walt Whitman
já é famoso. Acomodou-se a uma forma de velhice muito sua. Ainda inocente,
ainda deslumbrado, viaja com o seu amigo e biógrafo Bucke para a cidade que
sempre amou, palco dos seus grandes triunfos e rejeições.
1922. Robert
Moses é um homem com uma ideia em mente. Observando à distância a silhueta de
Manhattan, antecipa o futuro da cidade. É ele quem vai construir a Nova Iorque
moderna.
2013. Edmund
White está de regresso à cidade da sua juventude, da sua vida e das suas
paixões. No quarto de hotel, recorda com prazer os dias lascivos e as noites de
euforia do passado. Mas, entretanto, passaram os anos, cumpriu-se o volver do
tempo…
Opinião
Antes da obra, vou referir-me à
qualidade da impressão e da capa. A verdade é que esta edição, e penso que seja
comum aos restantes títulos da Elsinore, possui uma qualidade gráfica incrível.
A capa é extraordinária - julgo igualmente que o mesmo ilustrador terá
concebido a capa de outros livros desta chancela; o papel é grosso e
resistente; o texto lê-se com muita facilidade; o cartão e a impressão são de
excelência. Ou seja, Onde Todos Observam convida-nos a nós, leitores, a desejar
observá-lo de um modo mais pormenorizado. Este livro seria classificável como
sendo gourmet, caso essa
definição fizesse sentido no negócio editorial. E talvez faça. Não sei.
No que diz respeito ao seu
conteúdo, que é o que verdadeiramente interessa, esta narrativa e forma de
escrever enquadra-se na perfeição na linha dos típicos escritores americanos,
como Roth, Auster ou Passos. Pelo que sei, a autora nasceu nos Estados Unidos
da América, embora tenha vivido parte da sua vida no Reino Unido. Ainda assim,
na sua maneira de ler as coisas - neste caso a cidade - vejo-a muito mais
americana do que britânica. Talvez eu tenha ficado com esta ideia devido ao
facto de autora se cingir à cidade de Nova Iorque. Na realidade, Megan Bradbury mostra que
toda ela vive e respira a Big
Apple. A autora exibe a cidade que provavelmente adora de uma forma
ímpar. Mostra-a através de vários personagens, típicos da grande metrópole, ora
sensíveis, ora artísticos, ora astutos. Ela denuncia os valores daqueles que
nela habitam. Vive com eles e para eles.
Megan Bradbury constrói uma
cidade intemporal ao longo do tempo. Constrói-a com palavras, com ideias, com a
voz dos seus personagens, fortes e débeis em simultâneo, como é a própria Nova
Iorque.
A verdade é que fiquei com
vontade de lá ir. E isto é Nova Iorque.