"O Pombo Inglês", de Stephen Kelman (Opinião)
31/10/2014 by Vasco
Sinopse
Harrison Opoku tem 11 anos e
acaba de chegar a Londres vindo do Gana. A viver num bairro social com a
família, Harri passeia pela sua nova vida com uns ténis Adidas únicos no mundo
- as famosas listas da marca foram desenhadas a caneta pelo próprio - e tranquilamente
alheado dos perigos que o rodeiam. Quando um rapaz da vizinhança é assassinado
em plena rua e a polícia não consegue encontrar testemunhas, Harri decide
investigar por conta própria. Mas, ao fazê-lo, ele rompe inadvertidamente a
frágil teia protetora que a sua mãe tecera em torno da família. Uma história de
inocência e perda, esperança e desespero, "O Pombo Inglês" marcou a
fulgurante estreia de Stephen Kelman e foi finalista do Man Booker Prize, The
Guardian First Book Award, entre outras distinções.
Opinião
Inocente. Imaturo. Impreparado.
Estas três características com que inicio esta opinião
– como sempre fiz com todas elas – não têm a ver com o autor nem com a sua
escrita. Referem-se antes à visão da personagem principal e à forma com que ela
encara o mundo e analisa as situações com que se depara. Harrison é um miúdo
que veio do Gana e que aterra no aeroporto de Londres, embora pareça que tenha
lá caído de pára-quedas. Assim, o livro acaba por ser uma narrativa imatura e
simplista, que relata as coisas como elas são, coisas que vão ocorrendo num
ambiente novo, sempre captadas pela perspectiva de uma criança de 11 anos,
proveniente de um país onde tudo é diferente daquele que o recebeu.
Existe permanentemente um lado bom e espontâneo,
próprio da inocência de um pré-adolescente, que contrasta com a violência
urbana e inconsciente da selvajaria que domina a humanidade. Acaba por ser
engraçado o facto de aquele que é visto como o selvagem, o coitado, acaba por
ser o mais nobre de toda a comunidade.
Ao longo do livro, em que Harri busca um assassino,
assistimos a cenas verdadeiramente hilariantes, sempre interpretadas por alguém
que não está preparado para lidar com elas.
Acho, honestamente, que “O Pombo Inglês” poderia ter
sido uma obra brilhante. Apesar de ter gostado, penso que não o tenha sido
apenas porque o autor não o quis. E isso às vezes acontece.