No dia Mundial da Poesia
21/03/2010 by Paula
Endechas a Bárbara Escrava
.
Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que para meus olhos
Fosse mais fermosa.
Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar.
.
Uma graça viva,
Que neles lhe mora,
Para ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.
Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão,
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.
.
Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela, enfim, descansa
Toda a minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo;
E pois nela vivo,
É força que viva.
Luís de Camões
.
Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que para meus olhos
Fosse mais fermosa.
Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar.
.
Uma graça viva,
Que neles lhe mora,
Para ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.
Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão,
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.
.
Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela, enfim, descansa
Toda a minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo;
E pois nela vivo,
É força que viva.
Luís de Camões
Lindíssimo!
No Dia Mundial da Poesia deixo aqui a minha partilha...
«Se acariciasse o sonho
ou apenas um filamento
da figura que nunca se desnuda
porque está sempre atrás dos olhos
se pudesse abraçar o corpo que ignoro
talvez o corpo do meu corpo
que reside entre a separação e o encontro
se pudesse atravessar a fronteira
entre o incompleto e o completo
se pudesse anular a torpeza irredutível
em que se afunda o mistério mais puro
se pudesse penetrar de um salto
no centro dessa rosa obscura
de que a palavra nunca será o espelho
se pudesse ser a balança flexível
do astro que sorri às vezes sob a água
e a que chamamos anjo
porque tem o aroma do horizonte
se pudesse ser a palavra exacta e viva
do seu rosto transparente inclinado e leve
se pudesse inverter o movimento do poema
e beber a própria sede do náufrago inocente
poderia construir um templo completamente vazio
e tocar o extremo puro do que não existe»
in «Os Animais do Sol e da Sombra seguido de O Corpo Inicial», de António Ramos Rosa
Boas leituras poéticas! :)
Lindo,Lindo. Venha conhecer o meu Blog e se gostar seja minha seguidora também. 1001 Abraços fraternos
Tons de Azul,
Obrigado pela partilha. Adorei :)
1001 Contos,
Olá, sê bem vinda, vou já espreitar o blogue ;)
"Esta é a cativa
Que me tem cativo"... lindo!!!
Então a Paula gosta de Camões?
TAMBÉM EU.
Ele é tão conhecido pelos Lusíadas que às vezes esquecemos a sua poesia lírica, que é maravilhosa.
Bom dia da poesia para si, Paula.
José Gomes,
Gosto de Camões sim, é difícil ficar indiferente à sua poesia :)
Um abraço
BÁRBORA NÃO
Cantando o poeta em sua escora
levara na fadiga antiga vinha.
Ó moço que no leito discorres, cuida,
arde para que sinal torne tua amiga.
Contando que a viu em face distinta,
sua companheira sorriu somente.
Vai com ele na doce peia que mais não
pode viver se sabe. Amor, disse, e apôs
seu nome, sua ventura.
Então a doce morena mordeu o lábio,
mais rica, mais leve na canela.
Porte esguio que a alma aquece.
Com vagar sorriu, deitou olhar e
co’as mãos já humedecidas as escondeu.
“Fico grato, concretamente, de seu fastio
ou de seu intento.” Calou. Sorriu.
Sorriu somente.
José Maria de Aguiar Carreiro
Folha de Poesia, Junho de 2007
http://sol.sapo.pt/blogs/josecarreiro/archive/2007/06/10/camoes.aspx