Um bom romance / José Saramago
22/02/2011 by Paula
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Ontem estava a ler “Conversas de Escritores” de José Rodrigo dos Santos e não resisti em partilhar convosco uma parte da entrevista a Saramago sobre o romance.
"José Rodrigo dos Santos- O que é para si um bom romance?
José Saramago - Um bom romance? Embora isto possa parecer um pouco pretensioso, eu estou por aquilo que foi dito por Kafka: o romance deve ser uma acha capaz de romper o mar gelado da nossa consciência. E eu, mais ou menos, acrescentava isto: se não for assim não vale a pena. Claro que isto é demasiado radical e nem tenho a certeza que ele o tenha dito.
JRS – Mas, se não o disse soa bem
JS- Se não disse, soa bem…Eu creio que sim, isto para mim foi fundamental. Não sou muito de abandonar a leitura de livros a meio. Em geral até tenho uma superstição de que o livro deve ser lido até ao fim, mesmo que não seja excepcionalmente bom. Sempre se está anunciando a morte do romance, o próprio Harold Bloom considera o romance uma espécie em vias de extinção. Não estou de acordo porque, se fizermos uma leitura daquilo que se vai fazendo não só por aqui como noutros países, o romance abriu-se, deixou de estar preocupado com a história mais ou menos verosímil. E abriu-se a quê? Abriu-se à poesia, abriu-se ao drama, abriu-se ao ensaio, abriu-se à filosofia. Em minha opinião, o romance – de acordo com as transformações por que passou recentemente e continua a passar – deixou de ser um género para se transformar num espaço literário. " * (pág. 217)
"José Rodrigo dos Santos- O que é para si um bom romance?
José Saramago - Um bom romance? Embora isto possa parecer um pouco pretensioso, eu estou por aquilo que foi dito por Kafka: o romance deve ser uma acha capaz de romper o mar gelado da nossa consciência. E eu, mais ou menos, acrescentava isto: se não for assim não vale a pena. Claro que isto é demasiado radical e nem tenho a certeza que ele o tenha dito.
JRS – Mas, se não o disse soa bem
JS- Se não disse, soa bem…Eu creio que sim, isto para mim foi fundamental. Não sou muito de abandonar a leitura de livros a meio. Em geral até tenho uma superstição de que o livro deve ser lido até ao fim, mesmo que não seja excepcionalmente bom. Sempre se está anunciando a morte do romance, o próprio Harold Bloom considera o romance uma espécie em vias de extinção. Não estou de acordo porque, se fizermos uma leitura daquilo que se vai fazendo não só por aqui como noutros países, o romance abriu-se, deixou de estar preocupado com a história mais ou menos verosímil. E abriu-se a quê? Abriu-se à poesia, abriu-se ao drama, abriu-se ao ensaio, abriu-se à filosofia. Em minha opinião, o romance – de acordo com as transformações por que passou recentemente e continua a passar – deixou de ser um género para se transformar num espaço literário. " * (pág. 217)
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*in Conversas com escritores de José Rodrigo dos Santos