Coração das trevas de Joseph Conrad (Divulgação)
24/10/2017 by Lígia
Uma viagem pelas águas turvas da alma
humana
A Nellie, uma iole de
cruzeiro, adernou para a âncora sem um só batimento de velas, e ficou em
sossego.
Perturbadoramente viciante e claustrofóbica, a prosa de Joseph Conrad
em Coração das Trevas é um legado do século XX.
Traduzido para a Guerra e Paz por Maria João Madeira, este é um romance
assombroso que nos mergulha nas profundezas da selva africana e do turvo do
coração humano.
Pode dizer-se de Coração das Trevasque é a história de
um homem que conta a história ouvida do homem que lha contou a ele e a quatro
outros marinheiros, cedendo-lhe a palavra que escuta. A modernidade literária
de Joseph Conrad começa aí, na estrutura da obra. De âmago intricado, esta obra
tem os muitos níveis de leitura das suas camadas, a que o mundo foi descobrindo
a modernidade, discutindo-o polémico, consagrando-o um clássico. Chega às
livrarias a 25 de Outubro.
Marlow, um marinheiro experiente, parte, numa barco a vapor, em busca do
Sr. Kurtz, um enigmático e enlouquecido comerciante de marfim, em direcção ao
continente africano. Nesta jornada física e psicológica, rio Congo acima, entre
cenas de tortura, crueldade e escravidão, Marlow questiona e reflecte sobre
questões e valores da essência humana e civilizacional, o seu lado mais obscuro
onde tudo é escuridão ou mito.
Kurtz resume-o na perfeição: «O horror! O horror!» Aqui levanta-se o véu do
inferno colonial, dissecando-se os limites da experiência humana. O que é ser
selvagem?
Este é o livro que inspirou o filme Apocalipse Now, de Francis Ford
Coppola, um livro que reflecte uma visão da África colonial que os anos
tornaram polémica.
Joseph Conrad. Com o nome de baptismo de Józef Teodor Konrad Korzeniowski,
nasceu na Ucrânia, em 1857, sob a autoridade czarista. Filho de um casal polaco
no exílio, ficou órfão aos onze anos, ficando sob a tutela do tio materno, o
responsável pela sua grande paixão: viajar por mar. Em 1874, viajou para
Marselha e assim inicia a sua carreira como marinheiro. Em 1886 obtém
nacionalidade britânica e o certificado de mestre no Serviço Mercantil
Britânico. Anos mais tarde, aproveitando as suas experiências na Marinha,
abandona o mar para se dedicar à escrita durante o apogeu do Império Britânico.
Almayer’s Folly (1895) foi o seu primeiro romance.
Com grande mestria narrativa, é ainda autor de outras obras, entre as quais
se destacam: Lord Jim (1900), Nostromo (1904), The Secret Agent (1907), Under
Western Eyes (1911), Chance (1916). Em 1890 escreveu The Congo Diary, que viria
a dar origem a Heart of Darkness (1902). Morreu em Kent em 1924.