Yoro, o desconcertante e elogiadíssimo primeiro romance de Marina Perezagua, autora de culto em Espanha, apresenta-se ao leitor através de um ângulo inovador: um testemunho epistolar de H., uma mulher que sobreviveu ao ataque norte-americano em Hiroxima, para o juiz que se prepara para a julgar.
Na carta, que ocupa todo o romance e funciona como revelação onírica do mundo interior de H. e da sua interação com a realidade, numa alegoria do mal e da esperança, a mulher defende a justeza dos seus atos através da memória da sua relação (complexa, dúbia) com Jim, um soldado americano, e da procura de ambos por Yoro, uma rapariga que este adotara no Japão durante a Segunda Guerra Mundial.
«Concluí que, se tivesse de escolher um nome para nós, escolheria "os que trazemos a bomba dentro de nós", dado que a manhã em que um bombardeiro B-29 lançou o Little Boy em Hiroxima foi só o início da detonação. Noventa por cento de todo o mal que sofreríamos, nós, os sobreviventes, iria sendo doseado minuto a minuto, mês a mês, ano a ano, emprenhando-nos desse mal que, se fosse abortado, seria só para nos abortarmos com ele.»

Yoro é uma odisseia assombrosa pelos lugares mais profundos e negros da mente humana. Ecoando Dom Quixote, Wim Wenders e Herzog na sua tensão narrativa, este romance, o primeiro de Marina Perezagua, é a busca de uma mulher por identidade, justiça, compaixão e maternidade.
H, a narradora e protagonista, confessa um crime nas primeiras páginas. E, em tom desafiante, continua, pedindo ao leitor que se atreva a ler a sua história, a sua confissão. H nasce em 1945, no momento da explosão da Little Boy sobre Hiroxima. Anos depois, H conhece Jim, um soldado norte-americano que procura, desde a guerra, uma criança que lhe foi entregue e depois retirada: Yoro. Apaixonados, percorrem o mundo seguindo as mais ténues pistas, até que, na viagem final, a verdade - complexa e perturbadora - revela o crime de H e a sua razão.

Torrencial, cru, pendendo entre polos opostos - amor e desespero, encontro e confusão, descoberta e prisão -, Yoro carrega nas suas páginas o caos pós-Segunda Guerra Mundial, o encontro frontal com a sexualidade e o mundo, a violência da linguagem e da lógica.



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