Depois de ler a entrevista de Valter Hugo Mãe no DN, não me contive a comentar duas das respostas do escritor!

DN - Um escritor com o seu nível de vendas e de reconhecimento, premiado, vive bem, em Portugal, ou sobrevive apenas?

VHM- A minha situação é, porventura, muito especial - se tivesse filhos, teria muito mais dificuldades.
Mas tenho de gerir o meu dinheiro em função das necessidades de um adulto.
Logo, se tiver de abdicar de determinadas palermices, faço-o facilmente. Eu não me posso queixar: o sucesso que tenho em Portugal e no Brasil, o facto de estar editado em muitos países, faz que eu hoje esteja bem. Isto significa o quê?
Ter um apartamento há 14 anos e ter um carro que comprei usado.
Mas não tenho prestações para pagar nem empréstimos...
Para o comum dos cidadãos que vive bem, isso é pouco, porque têm casas com piscina, casas de campo, casas de praia, eventualmente um barquinho para passear aos domingos, dois filhos a estudar em colégios privados...
Eu talvez não tenha a casa que queria, mas tenho aquela que posso.
Na minha vida, fui sempre muito pragmático, nunca me abeirei daquilo que está acima do que posso ter.
Isto permite-me também manter a minha cabeça tranquila.
Lembro-me, quando comprei o apartamento da insistência do banco para que eu contraísse um empréstimo. E eu não aceitei...
Não quero nunca abdicar da tranquilidade, que é exatamente aquilo que me permite pensar nos livros.Se eu estiver acossado com a prestação da casa, provavelmente não consigo escrever...

Oh Valter, ninguém te pediu para opinares sobre a vida do comum dos mortais e muito menos teceres juízos de valor sobre os mesmos.
O que te perguntaram foi, se em Portugal tu sobrevives ou vives como escritor. E OBVIAMENTE tu VIVES! Se acabaste de dizer que compraste um apartamento sem empréstimo há 14 anos, OBVIAMENTE que não sobrevives meu caro! E isto é claro! Agora, tudo o resto que disseste era desnecessário!
O que eu acho que devias dizer no fim de cada entrevista, mesmo sem te perguntarem, é o seguinte: 
Agradeço ao Nobel o empurrão que me deu para o meu sucesso estrondoso quando referiu que a minha escrita era um tsunami! Isso sim Valter é que era de valor. Agora falar dos filhos e das poses dos outros!! Tem dó!

PARA TUDO QUE O HOMEM AGRADECEU, mas reparem como o fez!


DN- Em 2007, ganhou o Prémio Saramago. Que importância real é que um prémio, ou melhor, que esse prémio teve na sua vida?

VHM- Começo por dizer, desde já, o seguinte:
o Prémio Saramago é o único que traz mesmo uma mudança à vida de um escritor.
Antes de mais, era dado pelo próprio Saramago - de resto, não sei se ele terá a mesma força com o Saramago morto.
Depois, porque apanha os autores numa idade ainda jovem, quando ainda são figuras sem capela.
Ou seja, entende-se bem que o que está em causa é a qualidade do livro, porque os escritores não têm esquemas montados, ainda não são propriamente amigos de ninguém.
É a melhor distinção quando se quer dar um salto de uma atividade mais ou menos amadora para um estado mais profissional, até na relação com uma editora mais sustentada.
Depois, há a dimensão do exemplo de José Saramago, que nunca se calou e só esteve ao serviço da sua própria consciência.

O que mais me comoveu na distinção que ele quis fazer-me, prende-se com o facto de ele não ser uma pessoa de elogio fácil, e que só expunha as ideias em que efetivamente acreditava.

Ora vejam lá o que é dito como resposta:
Com o Saramago morto é capaz de já não ter a mesma força (logo, os que receberam, depois da morte do Nobel talvez não mereçam). Os autores são jovens "figuras sem capela"! Mas para que todos entendam, Valter ainda coloca o "ou seja" para explicar que não há cunhas. Senhores! É a qualidade do livro! Entenderam??. Ou seja, ele não teve cunha! Como outros tantos escritores têm ou tiveram! 
Essa frase não necessita ser comentada "É a melhor distinção quando se quer dar um salto de uma atividade mais ou menos amadora para um estado mais profissional, até na relação com uma editora mais sustentada."
Depois, Saramago acreditava piamente em Valter, ora vejam e passo a citar "O que mais me comoveu na distinção que ele quis fazer-me, prende-se com o facto de ele não ser uma pessoa de elogio fácil, e que só expunha as ideias em que efetivamente acreditava." 

Havia muito mais para comentar, mas o post ia ficar muito longo, leiam aqui a entrevista na integra!

E, aos leitores menos atentos ou mais distraídos: o senhor já não escreve em minúsculas e não gosta de ser chamado de Vitor Hugo. Ok?  ;)

5 comentários:

    On 24 agosto, 2016 Dulce disse...

    Eu adoro este gajo?!!
    Ainda bem que nunca li nenhum livro dele, não gosto do homem, "prontos".
    Bjs Paula

     
    On 24 agosto, 2016 Vasco disse...

    Posso dizer que não tenho piscina, nem casa de férias. O meu carro também foi comprado usado. Mas não sobrevivo apenas. Seria uma idiotice dizer isso, porque conheço o mundo real.
    De qualquer forma, acho que muitas das pessoas que têm casas com piscina poderão deixar de ler os livros do Valter nas espreguiçadeira que repousam nos jardins.... das suas piscinas.

     
    On 24 agosto, 2016 Paula disse...

    Há cada resposta naquela entrevista que sinceramente, antes ele estivesse calado!

     
    On 24 agosto, 2016 Vasco disse...

    Calado? Nunca. Então e o tsunami?

     
    On 24 agosto, 2016 Serena disse...

    Nunca fui muito com a cara do homem e nunca li nada dele...

     

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