"Afinal eu quem sou, quando não brinco? Um pobre órfão abandonado nas ruas das Sensações, tiritando de frio às esquinas da Realidade, tendo que dormir nos degraus da Tristeza e comer o pão dado da Fantasia. De meu pai sei o nome: disseram-me que se chamava Deus, mas o nome não me dá a ideia de nada. às Vezes, na noite quando me sinto só, chamo por ele e choro, e faço-me uma ideia dele a que possa amar... Mas depois penso que o não conheço, que talvez ele não seja assim, que talvez não seja nunca esse o pai da minha alma...
Quando acabará isso tudo, estas ruas onde arrasto a minha miséria, e estes degraus onde encolho o meu frio e sinto as mãos da noite por entre os meus farrapos? Se um dia Deus me viesse buscar e me levasse para sua casa e me desse calor e afeição... às vezes penso isto e choro com alegria a pensar que o posso pensar... (...)"

F.P.
(Bernardo Soares)
Livro do Desassossego 

5 comentários:

    On 20 janeiro, 2013 Vasco disse...

    Muito bonito, claro.

     
    On 20 janeiro, 2013 Paula disse...

    Também achei :)

     

    O que eu do Pessoa desse livro...
    :)

     

    Um óptimo livro de cabeceira.

     

    O que eu "gosto"...

     

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