Frase polémica para os novos autores??
25/01/2012 by Paula
Vagueando pela net, encontrei esta frase que dava para realizar uma tertúlia interessante.
"A maior parte dos livros de hoje parece ter sido feita num dia, com livros lidos na véspera."
"A maior parte dos livros de hoje parece ter sido feita num dia, com livros lidos na véspera."
(Nicolas Chamfort)
Ora, sabemos que hoje em dia têm sido publicados um sem número de livros. Temos assistido ao nascimento de novas editoras cujo objectivo primeiro é divulgar autores novos. Mas será que estas editoras têm feito a divulgação necessária para dar conhecimento das obras e autores? Têm publicado 2ª edições? Arriscam? Ou "jogam" sempre pelo seguro e muitas vezes prejudicam os autores?
Têm surgido excelentes obras, mas também obras que não interessam a ninguém, como por exemplo: livros de figuras públicas que não nos trazem nada de novo, pretendem apenas vender e lucrar com as respectivas vendas!
A frase que acima coloquei levanta a velha questão "Um clássico é excelente, um livro recente nem tanto"
Uma frase um tanto injusta
Agora algo interessante, o autor da frase ""A maior parte dos livros de hoje parece ter sido feita num dia, com livros lidos na véspera." viveu no séc XVIII, o que levanta ainda outra questão...
Porquê dar sempre mais valor ao que já foi editado há anos?
É que estamos em pleno sec. XXI e continuamos com a mesma idéia :)
Concordo (cada vez mais) com essa frase. E é "fácil" explicar porquê. Acredito que a maioria dos livros não passa no teste do tempo e os que passam valem realmente a pena. Não dou mais valor a um livro por ter sido escrito há mais tempo, dou é menos valor a um livro que não passa de uma má versão de uma história já batida.
Mas como nem tudo é perfeito, há muitos livros que mereciam ser imortalizados e que não passam de uma primeira edição escondida numa estante estura...
Boas leituras
Patrícia,
Concordo contigo quanto aos livros que mereciam ser editados novamente e não passam de uma primeira edição.
Hoje em dia, as editoras dão também bastante importância ao "nome" do autor e nem tanto à qualidade do livro em questão. Claro que não estou a falar de todos, mas é uma realidade a que se tem vindo a assistir!
Em relação aos clássicos, passados tantos anos ainda persiste a ideia de que os livros antigos, são os melhores, quando hoje em dia são também editados excelentes livros!
Patrícia, deixar um livro vencer pela permanência no tempo não significa que a frase esteja certa. Os livros que hoje são clássicos também foram novos um dia, e nem todos foram bem recebidos no seu tempo. Em todas as épocas existiram livros que se TORNARAM clássicos e outros que se perderam. Vai acontecer o mesmo com os de hoje.
Como nova autora (o meu livro que vai sair não pretende tornar-se nenhum clássico, mas fico contente se for uma boa leitura) concordo é que sai muito lixo que vende pelo nome do autor na capa e não pelo conteúdo e que é pouco mais do que pastilha elástica. As generalizações nunca são justas, são perigosas e incorretas. Vá lá,este Chamfort pelo menos diz "a grande parte", o que sempre abre espaço às exceções que existem.
Quanto às editoras, hei de descobrir em breve que tipo de investimento um editora "grande" (Porto ed.) faz num autor novo em ano de crise... Veremos.
Carla, dou-lhe os parabéns por ter conseguido ser editada pela Porto Editora e também estou curiosa quanto ao investimento que essa chancela irá fazer num novo autor, pois tenho tido experiências menos boas com a minha pequena editora...
Quanto ao tema que a Paula propôs: acho que há sempre a tendência para achar que "antigamente é que era". De qualquer maneira, é interessante alguém ter dito esta frase já no séc. XVIII, pois não se pode comparar o mercado livreiro dessa altura com o de agora. Mas penso que isso também mostra como tudo é relativo, uma questão de perspectiva.
"Porquê dar sempre mais valor ao que já foi editado há anos?"
É uma boa pergunta. A ideia do teste do tempo, que já seleccionou os maus livros daquela época, deixando que fossem os bons a chegar até nós, pode ser um atractivo. Mas nunca se desiludiram com um clássico? Não quero dizer que seja mau, mas nunca leram um desses livros para chegar à conclusão de que tinha muito pouco que respondesse ao que procuravam?
Como em quase tudo, acho que depende da perspectiva. Eu gosto de descobertas novas. Já tive desilusões com livros de novos autores, como já tive desilusões com clássicos. E também já tive muito boas surpresas em ambas as áreas. Mas, se me limitar pela altura em que um livro foi escrito, provavelmente fico sem conhecer obras que poderiam ter sido boas leituras.
Suponho que a este fenómeno, se sobrepõe um outro, mais actual, sem dúvida, logo, não aplicável ao verdadeiro sentido da frase do Sr. Chamfort, que é o surgimento deste nicho de mercado onde se inserem estas editoras de publicação conjunta, estes verdadeiros traficantes comezinhos de sonhos por concretizar, cuja razão de existência, se deve à necessidade cada vez maior que os novos autores tem, de quererem mostrarem o seu valor, a qualquer custo, (por mim falo pelo menos). Adiei esse sonho por demasiado tempo, e, quando decidi torna-lo vivo, caí indefeso na armadilha, e agora tudo intento para me libertar. É uma mera razão comercial que nos guia a todos. Nós, autores, queremos vender os nossos livros, os nossos sonhos, o muro concreto das editoras de primeira linha, grandes consórcios editoriais, quase todas elas, onde o lucro é lei, impedem-nos (com raras excepções) de lá chegar, e acabamos mal seduzidos por estas outras editoras que colocam o lucro assegurado logo à partida, em troca da concretização mal amanhada de um sonho. Talvez a solução seja a auto-publicação, onde também se registam casos de sucesso, porque o fundamental, e acredito cada vez mais nisto, é criar boa literatura, contar boas histórias, envolventes, criativas, surpreendentes, pois é essa a responsabilidade que temos com os leitores.
Gostar de um livro é tão subjectivo e pessoal como gostar de uma música, perfume ou determinada comida.
A diversidade de novos autores e editoras é necessária e bem vinda pois são estas lufadas de ar fresco que nos alimentam.
É verdade que têm surgido obras meramente comerciais, sem conteúdo, mas cabe-nos a nós, leitores, seleccionar. Desta forma é dada oportunidade a todos.
"Essa juventude está estragada até o fundo do coração. Os jovens são malfeitores e preguiçosos .Eles jamais serão como a juventude de antigamente. A juventude de hoje não será capaz de manter a nossa cultura."
Esta frase foi descoberta recentemente num vaso de argila nas ruínas de Babilônia. Ou seja, tem, no mínimo 4.000 anos.
Penso que percebes o que quero dizer. Pessoalmente acho que hoje em dia há muito lixo a ser editado, mas não há livros maus. Há gostos para tudo!
Estas palavras fizeram-me lembrar o filme recente do Woody Allen, "Meia-Noite em Paris". Quem o viu saberá com certeza ao que me refiro. ;)
Nesta história toda, o melhor mesmo é ler, sejam eles clássicos ou atuais. Má literatura haverá sempre. Há que saber selecionar aqueles que nos provocam prazer nas palavras escritas.
Paula,
um dia disse que o que torna um livro bom ou mau é o gosto que temos a lê-lo. Embora não deseje desmentir-me posso completar-me.
Penso que os livros têm dois valores intrínsecos que são completamente independentes.
O primeiro (sem ordem definida) é o tal valor relativo ao prazer que cada leitor obtém da obra. Este tipo de valia é variável, pessoal e até temporal.
Acontece, e só agora me ocorreu pelo que a ideia poderá não sair muito bem explícita, que existe a tal outra valia, completamente independente que é o valor literário de uma obra. Ora parece-me bem que nem sempre, ou mesmo a maior parte das vezes, este valores não são coincidentes, isto é podes ter uma obra-prima da literatura que ninguém lê e podes ter um livro vendido milhões de vezes que literariamente é lixo.
Penso que os livros que perduram através das gerações são os livros que têm o tal valor literário e desse modo acabam por se tornar clássicos.
Quais os livros de hoje que têm as qualidades literárias para se tornarem clássicos?
Essa é a "million dolar question" ;)
Saramago, Zafón, Murakami?
Para mim sim, embora seja suspeito...
E para ti?
E para vocês todos?
;P
Eu aqui a pensar quem era o André Nuno e afinal é o "nosso" arame farpado :)
Para mim Saramago será ou já é um clássico, Murakami penso que com o tempo também se tornará num clássico... Záfon não sei... para mim não :)
Tons de Azul,
Concordo contigo quando dizes que devemos procurar aqueles que nos causam prazer na leitura. Eu pessoalmente só leio quando gosto do que leio. Ao contrário torna-se impossível...
Iceman,
É isto mesmo que referes. E hoje ao ler "Orlando" de Virginia Woolf, dou com uma frase de agradecimentos a autores que já haviam falecido e depois a autora prossegue a frase dizendo "Outros talvez igualmente ilustres, vivem ainda - e essa é a razão de serem menos formidáveis" ora aqui está mais uma frase dentro dos mesmos parâmetros destas que temos analisado. :)
Esconderijo dos livros,
Referes um ponto importante do aparecimento das editoras - a oportunidade que é dada a todos os autores :)
Apesar de achar que existem livros de qualidade hoje em dia, sou obrigada a concordar com a frase, infelizmente hoje temos uma enxurrada de livros que só falam de um único assunto, como se os escritores tivessem reciclado uma idéia diversas vezes sem criar algo novo.
Muitos livros hoje em dia parecem de livros descartáveis, é o que tem feito muito sucesso, livro que daqui um ano ninguém vai lembrar mais, a não ser que façam um filme sobre ele pra durar mais um pouco.
bjks
sam
Há aqui várias questões levantadas, e todas elas dão pano para mangas. Tentarei clarificá-las, mandar umas larachas e ser o quão breve devem ser os comentários:
1- A questão dos clássicos e do tempo que, supostamente, os seleciona, separando os melhores dos piores. Seleciona mesmo? Ou cada época tem os seus próprios clássicos. Acaso não se gostou já mais dos autores gregos? Ou da literatura realista? E há aqui um outro problema: não se pode dar de barato que o tempo selecionou os melhores livros. Pode ter havido outros livros que ficaram esquecidos, apagados pelo próprio tempo (recordo "o que hei-de fazer com este livro" de Saramago.
2- A questão anterior conduz a outra: hoje publica-se imenso. Quanto a mim publica-se demais. Publica-se tanto que me arrisco a dizer que existe a real possibilidade (quase inevitável) de os melhores livros do nosso tempo ficarem esquecidos nas sombras do tempo. Há demasiada publicação, lixo, que decorre de alguma importância que ainda se dá à literatura. Mas não é a importância que se dá a uma literatura por ser boa ou interventiva. Não, as pessoas julgam-se mais importantes se escreverem um livro, como se isso lhes concedesse uma pouca de imortalidade. Ao fim e ao cabo à literatura ainda lhe é concedida enorme valoração. Porventura, pergunto eu, derivada da ignorância e da falta dela? Talvez, não sei.
3- As grandes e as pequenas editoras. E as últimas confundidas com as que ganham o dinheiro dos autores (e não com os autores) vendendo-lhes os livros. Mas atenção: se um autor, daqueles como eu que não têm um apelido sonante de famoso, está à espera de ganhar dinheiro com direitos de autor chorudos pagos pelas grandes editoras, tire daí o cavalinho. Na verdade onde se pode ganhar algum ainda é na venda do próprio livro em apresentações.
Perdoem-me a extensão do texto. E mesmo assim muito ficou por dizer.
Porquê dar sempre mais valor ao que já foi editado há anos?
A ideia sobre o valor de obras mais antigas, em detrimento das novas, só vem confirmar que nunca damos valor ao que temos e, que nos escudamos em crenças de que o que existia antigamente é que era bom. A maioria das obras que reconhecemos hoje como clássicos, no seu tempo eram considerados lixo e, os seus autores tratados como tal. Não me espanta que hoje em dia se pense da mesma forma, a história tende a repetir-se.