O Dia Em Que Matei O Meu Pai, Mário Sabino
18/09/2011 by Paula
Opinião:
“O Dia em que Matei o Meu Pai” é uma narrativa (como o próprio nome indica) de como foi a acção de matar um pai. A história é contada na primeira pessoa. Um relato impregnado de mensagens, significados e muitas vezes falsas pistas que nos levam por caminhos “estranhos” do pensamento para mais tarde percebermos que é apenas o personagem/autor a “brincar” com o leitor.
Uma história magnificamente bem escrita, cujo personagem tem uma caracterização bem sólida que nos leva à constante reflexão sobre os acontecimentos narrados.
Quando iniciei a leitura, estava convencida que seria uma leitura rápida (uma semana no máximo), mas levei o dobro do tempo não somente a ler, mas principalmente a digerir/saborear as informações implícitas na história, a carga psicológica que envolve o livro é grande. Mário Sabino diz que “Matar é simples, o difícil é saber porque matamos” e é à volta desta questão que se desenvolve toda a trama desta obra.
O permanente jogo que o autor faz com o leitor leva à confusão das ideias, daí as necessárias pausas para reflectir e elaborar uma nova lógica para aquilo que se está a ler… a grande questão é mesmo esta – o autor quer gerar o caos na lógica do leitor…
O final do livro, ou melhor a ante penúltima frase, deixa-nos atónitos, levando-nos mais uma vez a rever os pensamentos, acções do personagem. Um livro que quando fechado (após a leitura) não pode ser guardado na estante, pois permanece durante muito tempo na nossa memória… e a releitura de algumas partes torna-se necessária.
"Mário Sabino não veio para confortar. Com coragem, com malícia, com graça, ele prefere perturbar, desmontando tudo aquilo que a nossa inteligência concebeu na frustrada tentativa de dar um pouco de ordem e sentido à realidade"
Mario Sabino nasceu em São Paulo, em 1962. Actualmente é editor executivo da revista Veja. O dia em que matei o meu pai é o seu primeiro romance.
Mario Sabino nasceu em São Paulo, em 1962. Actualmente é editor executivo da revista Veja. O dia em que matei o meu pai é o seu primeiro romance.
Quando li a sinopse não fiquei interessada, mas a tua opinião intrigou-me bastante...
Olá, Paula.
Embora nunca tenha intervido através de um comentário, sigo, mais ou menos com regularidade, o teu blogue desde há cerca de um ano. Tenho a dizer que admiro o teu gosto pelos livros e a tua dedicação ao redigires sempre um post com uma crítica a cada um dos que lês, partilhando as tuas experiências literárias com outras pessoas.
Eu posso dizer que comecei a apreciar verdadeiramente o acto de "ler" desde há cerca de 3 anos. Antes, já gostava de ler - na minha infância devo ter consumido centenas de livros de banda desenhada - mas via essa actividade mais como um passatempo e não como algo necessário, onde poderia encontrar pensamentos que enriquecessem realmente a minha vida.
Agora, com 20 anos (21 anos daqui a 1 semana), penso que finalmente entrei na minha maturidade literária, sendo que bati este ano o meu recorde de leituras, indo neste momento com 29 livros lidos.
No entanto, e muito devido à vida universitária, que, basicamente, de Setembro a Julho consome o meu quotidiano, apenas me sinto à vontade para ler algo não constante do plano de estudos durante o verão. O que é algo que, em alguns momentos, me deixa frustrado, porque sinto que estou sempre a perder algo.
Assim sendo, decidi-me finalmente a comentar algo no teu blogue, não para te elogiar até à bajulação (penso que não é necessário), mas para te pedir um conselho. Visto que, como me parece, lês umas boas dezenas de livros por ano, gostava que partilhasses comigo o teu método - se é que tens realmente um método. Lês um determinado número de capítulos por dia? Um determinado número de páginas? Lês o que te apetecer todos os dias?
É que, além do que já referi, eu tenho uma mania associada às minhas leituras. Quando leio gosto de extrair o máximo da leitura. Sempre que me deparo com pensamentos profundos ou mais elaborados, gosto de parar por uns minutos a digerir o que acabei de ler, principalmente quando se tratam de livros de cariz filosófico, que são os meus preferidos. Assim, essa acaba por ser outras das razões por que eventualmente adio todas as minhas leituras para o verão, já que durante o tempo de aulas, é difícil conseguir tempo e disposição para tal exercício. Também tenho a tendência para estar sempre munido de um lápis quando leio, para sublinhar enxertos marcantes a recordar, talvez, mais tarde, o que acaba por ser outra limitante, já que me vejo obrigado a comprar tudo o que leio para o fazer e como ainda não trabalho e os meus pais não são uma mina de ouro...
Bem, lamento se o meu comentário não é direccionado ao conteúdo visado neste post e se te atormento um pouco com alguns dos meus dramas pessoais associados ao mundo literário.
Em todo o caso, agradeço a tua disponibilidade e desejo-te uma continuação de boas leituras e muito sucesso para o teu blogue.
Hum me deixou bastante interessada... Obrigada pela dica !!!
Laura e Prazer da Gula,
O livro é muito bom :)
Armyofufs,
Olá, que bom que comenta, o blogue só faz sentido se comentado :)
Se tenho algum método de leitura?
Não :P
Mas todos os dias faço por ler, dependendo do livro consigo ler com alguma rapidez ou não...penso que deve estar a ler no mínimo 4 livros por mês...
Também gosto de riscar e anotar os livros, tenho um e-book e não consigo acostumar-me precisamente devido a isso... ah, também gosto de dobrar os cantos das páginas, dobro em cima para marcar a página que estou a ler. Dobro em baixo para fixar a página que tem alguma citação de que gosto. (manias de leitor :P)
Belo nº já lido este ano :) depois diz-me alguns títulos, fiquei curiosa :)
Abraço
Peço desculpa por me intrometer, mas li o comentário do Armyofufs e pensei em responder-lhe (espero que ninguém se importe).
Eu também tenho uma vida universitária bastante ocupada que por vezes me impossibilita de ler tanto quanto gostaria. Obviamente, cada pessoa tem de arranjar o método que mais se adequa à sua pessoa e, portanto, isto poderá não ter qualquer tipo de utilidade para ti, mas eu tenho algumas regras "básicas" que funcionam minimamente bem:
- eu leio nos transportes. Gasto cerca de duas horas por dia neles e como tenho muito que estudar, aproveito sempre esses momentos. É sempre uma hipótese.
- tento coordenar a leitura com a época escolar. Se se aproximam exames e muitas horas de estudo, prefiro ler algo de tamanho pequeno-médio e que seja pouco complexo para não me perder durante as pausas que eventualmente venha a realizar (ou até para não me cansar do livro).
- evito começar livros que me vão entusiasmar demasiado durante períodos complicados da universidade. Já sei que me vou concentrar mais naquilo que não devia...
- não me forço a ler em casa se não tiver vontade. Eu, pessoalmente, concluí que não sou pessoa de muitos desafios ou de tentar acompanhar os outros. Leio o que me apetecer, quando me apetecer e não deixo que os outros ditem as minhas escolhas.
Por fim, tendo em conta a pergunta que colocaste à Paula, podes sempre tentar criar uma "regra" de ler X páginas por dia (um número razoável mas "pequeno". Se decidires ler 100 por dia e só tiveres 5 minutos...). O mais importante e que eu notei em mim mesma, é que tens de arranjar forma de evitares ficar frustrado. Se queres ler, fá-lo de acordo com as tuas possibilidades: vê tem a disponiblidade que tens, o dinheiro que podes gastar nos livros, quando podes comprar um, e rapidamente vais arranjar um método.
Por fim, se te aperceberes que apesar de tudo só tens possibilidade de ler no Verão, não faz mal. Parece que aproveitas bem o tempo em que podes ler e isso é o mais importante ;)
Paula
Obrigado pelo comentário. Bem, este ano li uma grande variedade de livros. Em termos filosóficos, centrei-me essencialmente em Nietzsche - A Gaia Ciência, Humano Demasiado Humano, Assim Falou Zaratustra, A Genealogia da Moral, O Crepúsculo dos Ídolos,... O Zaratustra, particularmente, é um livro redigido num estilo mais lírico (embora o autor nunca adopte o estilo académico do ensaio filosófico nos seus escritos, preferindo sempre os aforismos), pelo que penso que poderá agradar mesmos aos leitores que preferem leituras mais ficcionais. Ainda no âmbito da filosofia, li A Utopia de Thomas More e O Príncipe de Maquiavel.
Quanto a leitura de ficção, li do 1984 de George Orwell a alguns romances de Valter Hugo Mãe, uns três livros de Saramago, D. Quixote, entre outros.
Laura
Muito obrigado pelas dicas.
No meu caso, gasto cerca de 1 hora em transportes, mas o problema é que sou eu próprio a deslocar-me de carro, portanto não tenho essa oportunidade.
Quanto ao segundo tópico, concordo plenamente, mas, como penso que disse antes, tenho a "mania" de sempre que leio um livro me deixar absorver praticamente pela leitura, para a rentabilizar ao máximo.
Também concordo quando dizes que o ideal é ler quando se tem vontade, independentemente da "quantidade" dessa vontade. Afinal de contas, pelo menos para mim, e apesar dos lucros intelectuais que retiro de cada leitura, não é mais do que um passatempo e, como tal, só deve ser realizado de acordo com a disposição de cada um para tal. Admito, porém, que sou um tanto ou quanto competitivo e, muitas vezes, deixo-me influenciar pelos comentários de pessoas que já leram mais do que eu a determinados livros e não descanso enquanto não os leio, embora nunca seja de tal forma afectado por isso que não consigo adiar as leituras durante alguns meses até.
Agradeço particularmente o último comentário que fizeste, porque para pessoas interessadas na leitura às vezes parece que há uma certa obrigação social de ler estes ou aqueles livros (os clássicos, por exemplo), quanto mais não seja para se poder dizer que já os leu e acho que é absolutamente despropositado tornar um prazer numa obrigação apenas para manter as aparências.
Bem, quanto a mim, devo admitir que durante o período lectivo, salvo os comuns períodos de férias de uma ou duas semanas, raramente encontro disposição ou paciência para me dedicar à leitura de acordo com os meus parâmetros, uma vez que ou saio muito cansado das aulas e, então, me dedico a actividades mais levianas (sim, eu próprio tenho consciência da leviandade de determinadas actividade em que desperdiço tempo devido ao cansaço, mas enfim...) ou não tenho tempo para me dedicar como quero à leitura, nomeadamente de livros filosóficos, que me exigem um elevado grau de atenção e interiorização ou, simplesmente, e como tenho que comprar os livros para poder exercer as minhas "manias" de leitor, não o faço porque quase que me sinto a explorar os meus pais que já não pouco dispensam com a minha educação. Portanto, muito provavelmente, e ainda que com isso possa vir a sacrificar muitas prazerosas leituras, penso que vou optar por manter o meu "sistema" da leitura nas férias, período que me permite obedecer incondicionalmente a todos os parâmetros por mim próprio exigidos.
Mais uma vez, grato pela atenção.
P.S.: Durante esta semana que passou, considerei até a possibilidade de começar a requisitar livros na biblioteca municipal da área da minha universidade (que fica a 10 passos) na tentativa de implementar um regime de leitura diária (ou quase diária) no meu quotidiano lectivo, mas depois de reflectir um pouco cheguei à conclusão que as minhas "manias" de leitor (que não consigo excluir de todo do processo de leitura) vão contra as normas das instituições do género, no que toca a manter a integridade dos livros, o que eu respeito totalmente.
armyofufs (que nome difícil :P)
Belos livros os que leste :)
Destes que referiste li somente "A Utopia" e não cheguei a fazer comentário. Tenho de o fazer! É um belo livro que nos leva à reflexão.
D. Quixote, vou a meio do primeiro volume... é uma leitura para se ir fazendo devagarinho :)
Quanto à biblioteca, também não me importo muito e pelos mesmos motivos que tu - sublinho, escrevo, anoto... enfim... Já leste "A Casa de Papel"?? Tem çá uma citação fantástica em relação ao sublinhar dos livros :P
armyofufs,
a frase é mais ou menos assim:
ler um livro é como ter uma relação amorosa, sublinhar e escrever nele, é atingir o auge do prazer!
Obrigado, Paula.
Pois, "A Utopia" deve ser um dos livros que mais me marcou este ano, embora quase todos eles me tenham marcado de uma maneira ou de outra.
Ainda não li esse livro, mas seja qual for a citação, penso que continuarei a não pretender "estragar" os livros das bibliotecas com as minhas anotações, até porque depois não os teria sempre "à mão" para mais tarde revisitar essas mesmas impressões xD.
Ah, obrigado pela partilha. De facto, era realmente algo assim que eu pensava sobre isso, embora nunca o conseguisse expressar dessa maneira sublime :).