Opinião:
“O Canto do Anjo, a história de um castrato” decorre em 1727 e tem o seu início na Suíça. Esta é uma história que apela de forma especial a um dos nossos sentidos – a audição. Aqui, os sons fazem nascer, crescer, viver, ansiar, vingar, entorpecer e renascer…
Este é um relato da vida do grande músico Moses Froben. Um homem que não é um homem, mas que é um anjo. Um ser possuidor de uma voz límpida e cristalina. Moses, fora um menino criado num campanário pela sua mãe, acostumado à miséria e à misericórdia da população, assim como à sua indiferença e  maldade. Afastados da população mãe e filho não comunicavam com ninguém, nem tão pouco articulavam palavras um com o outro. Os sinos tocados pela sua mãe no campanário, eram a sua vida, a sua energia e força de viver. Era assim que trocavam pensamentos – através do som daquele potente objecto. Depois de ser lançado ao rio, pelo seu pai, Moses é salvo por dois frades, Rémus e Nicolai que se dirigiam à Abadia de São Galo e é lá que todo o seu destino é traçado.

Abadia de São Galo - Suíça

Como não pode permanecer à guarda de Nicolai, o pequeno Froben é integrado no coro da Abadia. A sua bela voz encanta o seu professor de forma a que este resolve preservá-la para sempre… Ulrich, resolve transformar Moses num castrato. Assim, Moses Froben passa a ser um homem que não é homem, para ser um anjo, um músico.

Importa aqui referir o que é um castrato:
Castrato (plural castrati) é um cantor masculino cuja extensão vocal corresponde em pleno à das vozes femininas, seja de soprano, mezzo-soprano, ou contralto. Esta faculdade numa voz masculina só é verificável na sequência de uma operação de corte dos canais provenientes dos testículos, ou então por um problema endocrinológico que impeça a maturidade sexual. Consequentemente, a chamada "mudança de voz" não ocorre.
A castração antes da puberdade (ou na sua fase inicial) impede então a libertação para a corrente sanguínea das hormonas sexuais produzidas pelos testículos, as quais provocariam o crescimento normal da laringe masculina (para o dobro do comprimento) entre outras características sexuais secundárias, como o crescimento da barba.
Quando o jovem castrato chega à idade adulta, o seu corpo desenvolve-se, nomeadamente em termos de capacidade pulmonar e força muscular, mas a sua laringe não. A sua voz adquire assim uma tessitura única, com um poder e uma flexibilidade muito diferentes, tanto da voz da mulher adulta, como da voz mais aguda do homem não castrado (contratenor). Por outro lado, a maturidade e a crescente experiência musical do castrato tornavam a sua voz marcadamente diferente da de um jovem.
O termo castrato designa não só o cantor mas também o próprio registo da sua voz.*

Depois de algum tempo após a mutilação e quando se apaixona, Moses começa a sentir-se um ser incompleto, não se pode unir à sua amada como se ambos fossem um só. Não lhe pode dar filhos… Primeiro retrai-se, depois enche-se de coragem e vai em busca do seu amor para Viena de Áustria. E neste ponto, há que dar os parabéns ao autor por tudo o que nos descreve…as paisagens, os monumentos, os sons… o seu poder de escrita é tão grande que não é só Moses que vai para Viena de Áustria, nós leitores também o acompanhamos pelo Danúbio, percorremos Michaelerplatz, a Catedral Stephansdom as hospedarias de Sittelberg e muito mais…


Catedral de Stephansdom
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Os sons caminham com o nosso personagem como parte integrante do seu corpo, algo do qual ele não se pode dissociar e é com a ajuda dos sons que encontra a amada que julgara perdidda.
Moses entende que tem uma segunda oportunidade tal como Orfeu e Eurídice e assim, cantando em pleno palco de Staudach fazendo-se passar pelo castrato Gaetano Guadagni, recupera a sua amada com a ajuda de Nicolai e Rémus.
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Na contra capa deste livro há a seguinte frase “O Canto do Anjo está para o ouvido como o Perfume para o Olfacto. Um romance que apela aos sentidos e estimula a mente”  Na minha opinião, esta obra poderá ser comparada com o perfume de Patrick Süskind do ponto de vista em que há um apelo aos sentidos, contudo não poderá ser comparada na sua essência. O personagem de “O Perfume” busca o seu “ser”, é uma busca interior nunca concretizada. Aqui, “No Canto do Anjo”, Moses busca algo diferente, apesar de não se sentir um homem completo, ele tem lugar na sociedade, onde é reconhecido e apreciado.
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“O Perfume” e “O Canto do Anjo” são duas obras excelentes, porém diferentes, cada uma com a sua particularidade que a torna única. Esta foi uma obra que me maravilhou, pela sua estória, pelos lugares visitados, pelos sentimentos despertados…
Aconselho!

Sinopse:
Quando Moses Forben, soprano conhecido como Lo Svizzero, morre, é encontrado no seu espólio um maço de papéis onde o cantor da voz de anjo conta a sua atribulada vida. A narrativa na primeira pessoa dá conta da infância miserável nos Alpes suíços até à participação, em Viena, na ópera de Gluck, Orfeo ed Eridice, em 1762 — facto histórico que aqui coincide com o clímax do enredo ficcional. Richard Harvell escreve num impressionante registo que nos transmite a vibração da infinidade de sons que o seu personagem distingue e reproduz com a voz, e recria o grau de melodramatismo que é parte da ópera na sua essência.
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Richard Harvell nasceu em New Hampshire, Estados Unidos e estudou Literatura Inglesa no Dartmouth College. Atualmente vive em Basileia, na Suíça, e este é o seu primeiro romance.
Mais informações em: http://www.richardharvell.com/

*informação retirada da Wikipédia, assim como as imagens da Abadia de São Galo e da Catedral de Stephansdom
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O livro aqui na editora

2 comentários:

    On 02 setembro, 2011 Rita disse...

    Gostei mesmo muito da tua opinião. A música é uma das artes que mais me dizem e considero o tema do livro bastante interessante, ainda para mais tendo descrições assim tão fantásticas. :)

    Sem dúvida que irá para a minha wishlist. :)

    Beijinhos e boas leituras.

     

    Rita,
    Se gostas de música, vais gostar deste livro :D

     

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