Este é o comentário do José Gomes, um dos vencedores do passatempo proporcionado pela Editorial Presença que se realizou aqui no ...viajar pela leitura... em Janeiro.

O José teve a simpatia de me enviar a sua opinião sobre o livro em questão, que com a sua autorização publico agora no blogue :)

Depois de “O Tigre Branco”, Adiga oferece-nos um conjunto de histórias independentes que têm como denominador comum o cenário de Kittur, uma cidade imaginária que funciona como microcosmos da Índia actual.
Neste cenário desfilam dezenas de personagens que representam os graves problemas políticos e económico-sociais que martirizam esse grande país asiático, cheio de tradição mas também de contrastes e dramas.
Ao longo de trezentas páginas escritas num estilo fluente, agradável e simples, o leitor vai sendo “presenteado” com descrições cruas e impiedosas de crianças exploradas, vítimas de uma economia baseada, em grande parte, no trabalho infantil; pequenos empresários asfixiados pela corrupção que grassa como uma planta carnívora na Índia moderna; vítimas silenciosas da brutalidade policial, carcomida pelos jogos de interesses; crianças vítimas de um sistema educativo decrépito, corrupto e anacrónico; vítimas anónimas de lutas religiosas e políticas, num país dividido entre hindus, cristãos e muçulmanos, em guerras religiosas que se confundem com simples estratégias de sobrevivência; jornalistas impedidos de escrever a verdade; enfim, uma sociedade onde lutar por um lugar na hierarquia parece ser o destino único de pobres e ricos.
No entanto, a miséria da esmagadora maioria é a grande realidade; uma miséria que é fruto das injustiças e desigualdades sociais, num país que cresce a dois ritmos: o da alta burguesia, fundada sobre uma estrutura capitalista importada do ocidente, que se mescla desastrosamente com um sistema social de castas anacrónico e causa de injustiças gritantes.
Na sua obra anterior, O Tigre Branco, Adiga parecia atribuir todas as injustiças às tradições religiosas e culturais da Índia, como fontes de desigualdade social. Nesta obra nota-se um certo retrocesso nessa análise, sendo mais clara a crítica às estratégias capitalistas, a um sistema sem ética nem visão de futuro; um salve-se quem puder de origem ocidental que encontrou na sociedade indiana (já empobrecida por séculos de exploração colonial) terreno fértil para todas as formas de exploração do homem pelo homem. Aliás, este tipo de “miséria moderna” parece ser extensivo a todo o sudeste asiático.

Comentário de José Gomes (vencedor do passatempo "Entre os Assassinatos da Editorial Presença)

3 comentários:

    On 19 março, 2010 Paula disse...

    José mais uma vez obrigado pelo envio do teu comentário.
    Um comentário que nos faz querer ler o livro.
    Quando soube deste novo livro de Adiga fiquei pensando que talvez a escrita fosse similar ao "Tigre Branco", mas mesmo sendo similar em alguns aspectos parece-me ser um livro de leitura obrigatória :)
    Um abraço

     
    On 23 março, 2010 Anónimo disse...

    Seve disse...

    Se O TIGRE BRANCO é um livro fabuloso/imperdível/fascinante este segue-lhe as pisadas.

    Seve

     
    On 28 março, 2010 Paula disse...

    Seve,
    Sem dúvida
    ;)

     

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