Sinopse:
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"Com a publicação de Memória dos Dias sem Fim, o novo livro de Luís Rosa, o romance histórico português rasga novos horizontes, simultâneamente mais vastos e profundos, reveladores da própria dimensão humana. É a realidade da guerra em toda a sua desconformidade e falta de sentido, capaz de denunciar as muitas faces ocultas do homem, desnudando-o e mostrando-o como realmente é – sofredor, idealista, solidário, cruel. Mas, patentes nestas páginas de grande intensidade psicológica e sociológica, estão também outras realidades - as culturas, comportamentos e mentalidades da sociedade guineense que permeiam o quotidiano da guerra, a solidariedade que a crueza das circunstâncias comuns faz surgir entre negros e brancos, ou ainda a amizade incondicional que nasce espontâneamente entre irmãos de armas. O sentimento intenso do absurdo da guerra narrado por quem o viveu na primeira pessoa, a manifestação de um homem oculto que se expressa na luta pela sobrevivência no horizonte intenso dos dias sem fim."
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Sobre o autor:
"O primeiro romance de Luís Rosa, O Claustro do Silêncio, foi desde logo a sua consagração, ao ser distinguido com o Prémio Vergílio Ferreira. Seguiu-se-lhe O Terramoto de Lisboa e a Invenção do Mundo, que a crítica não deixou passar sem elogiosas referências e o público esgotou, numa primeira edição, em menos de um ano. O Amor Infinito de Pedro, Inês e Bocage – a Vida Apaixonada de Um Genial Libertino e O Dia de Aljubarrota receberam por parte do público e da crítica o mesmo entusiástico acolhimento. Luís Rosa é natural de Alcobaça, e licenciou-se em Filosofia e, mais tarde, em Gestão. Trabalhando na área de gestão de uma grande empresa portuguesa, desenvolveu também uma intensa actividade como docente universitário. É membro da Academia Portuguesa de História."
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A minha opinião:
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“A guerra tem cores próprias, rosnar próprio. É como um monstro uniforme a bordejar as vidas e a sufocar as almas, soprando por interesses e ódios abatendo-se sobre gente que se interroga por que está ali e tem que ser assim”
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É através de uma linguagem emotiva que Luís Rosa nos descreve o cenário da guerra colonial de África.
O cenário daqueles que lutaram para nunca mais esquecer, pois o passado destes homens tornou-se “constantemente memórias de uns dias sem fim que nunca teriam a misericórdia do esquecimento”.
Ao longo da história é realçado o modo como o homem se revela em guerra. Por mais pacato que seja, as situações desencadeiam reflexos que fazem desaparecer o homem civilizado, educado revelando-se frio, cruel, detentor de uma brutalidade e fúria que desconhecia até então, fazendo-o assim, retornar ao “primitivismo bárbaro”.
Os laços criados entre os que combatem são únicos e inesquecíveis, fazendo com que todos sejam um só! “Só em África se aprende o longo livro profundo da amizade”
Ver um amigo levar um tiro quando há pouco ainda esboçava um sorriso havia de ficar para sempre “nas memórias dos dias sem fim”
O estar atento torna-se uma constante, a morte espreita a toda a hora. Mas quem não morre fica sujeito a uma eternidade de constante terror.
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O final desta narrativa está magnificamente conseguido, através de reflexões sobre o sentido da guerra e da guerra colonial de África.
Dois homens que combateram em campos opostos, sentam-se e jantam (anos depois da guerra). Olhando para o passado fazem uma reflexão sobre os ideais pelos quais lutaram. Concluo a minha opinião deste excelente livro com uma das reflexões dos personagens:
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“Aprendemos o sentido enganoso da palavra colonialismo na nossa juventude!-disse
- Colonialismo era domínio político, passado pela fronteira da diferenciação rácica e social – respondeu e continou:
- Hoje é mais refinado. Colonialismo pode persistir para além do domínio político. Na economia, na asfixia da vontade de evoluir, no jogo financeiro, na dívida, na sujeição ao preço, no fomentar a discórdia…”
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Um livro que aconselho!
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Classificação: 4/6 Bom

7 comentários:

    Tens um selo de natal no meu blog a aguardar-te... Espero que recebes os cinco livros desejados!
    Um grande beijinho natalício!

     
    On 06 dezembro, 2009 José G. disse...

    Muitos entendidos afirmam já que o tema "guerra colonial" está estafado na literatura portuguesa. Parece-me uma opinião algo disparatada na medida em que esse fenómeno, que vitimou milhares de portugueses está bem vivo na memória colectiva portuguesa.
    Nunca será demais lembrar todos quantos sofreram com a teimosia e diria mesmo a estupidez de um regime político anacrónico, brutal e insano que nos governou durante quase 50 anos.
    Sobre este assunto gostava de recomendar as cartas de Guerra de Lobo Antunes, publicadas recentemente sob o título (cito de cor, com possibilidade de errar): "D'este Viver Aqui neste Papel Descripto". Trata-se de um testemunho comovente, de um grande escritor e de um homem que é, genuinamente, uma "boa pessoa". Tocante.

     

    Flicka,
    Obrigado:)

    José,
    Ora aí está um livro que já peguei inúmeras vezes na livraria, contudo nunca o comprei...acho que o vou colocar na wish list :)

    Um abraço

     
    On 08 dezembro, 2009 Day disse...

    que delícia esse blog! Adoro!

     

    Chegaram ao fim, os dias do autor.
    Faleceu no passado dia 12 de Setembro de 2020, com 81 anos, onde um "azar" pós operatório, não poupou quem tinha sido poupado pela "memória dos dias sem fim".
    Morreu o " Homem Grande"

    Luis Rosa (filho)

     

    Lamento muito.
    Os meus pêsames a toda a família e amigos.

     
    On 15 setembro, 2020 Anónimo disse...

    Os meus mais sentidos pêsames a toda a Família. Trabalhei com o Dr. Luis Rosa durante muitos anos nos TLP...desde 1976! Para além de um ecelente escritor era uma excelente pessoa e uma excelente chefia que muito contribuiu para a minha formação profissional. RIP! Isabel Fernandes.

     

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