Jorge de Sena - 90 anos

Jorge de Sena, se estivesse entre nós, hoje completaria 90 anos
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Filho de Augusto Raposo de Sena, natural dos Açores e de Maria da Luz Grilo de Sena, natural da Covilhã, exilou-se em 1959 no Brasil, após ter participado num golpe revolucionário em época de ditadura em Portugal.
No Brasil, doutorou-se em Letras. Mais tarde foi para os Estados Unidos, onde leccionou na Universidade de Wisconsin e na Universidade da Califórnia - Santa Bárbara. Quando faleceu, era director do departamento de Espanhol e Português.
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Trinta anos após a sua morte, os restos mortais foram trasladados para o Cemitério do Prazeres em Lisboa. A esta trasladação dos restos mortais do poeta para Portugal, o ensaísta Eduardo Lourenço chamou “um acto de reparação e de reconciliação”
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ODE À MENTIRA
Crueldades, prisões, perseguições, injustiças,
como sereis cruéis, como sereis injustas?
Quem torturais, quem perseguis,
quem esmagais vilmente em ferros que inventais,
apenas sendo vosso gemeria as dores
que ansiosamente ao vosso medo lembram
e ao vosso coração cardíaco constrangem.
Quem de vós morre, quem de por vós a vida
lhe vai sendo sugada a cada canto
dos gestos e palavras, nas
esquinas das ruas e dos montes e dos mares
da terra que marcais, matriculais, comprais,
vendeis, hipotecais, regais a sangue,
esses e os outros, que, de olhar à escuta
e de sorriso amargurado à beira de saber-vos,
vos contemplam como coisas óbvias,
fatais a vós que não a quem matais,
esses e os outros todos... - como sereis cruéis,
como sereis injustas, como sereis tão falsas?
Ferocidade, falsidade, injúria
são tudo quanto tendes, porque ainda é nosso
o coração que apavorado em vós soluça
a raiva ansiosa de esmagar as pedras
dessa encosta abrupta que desceis.
Ao fundo, a vida vos espera. Descereis ao fundo.
Hoje, amanhã, há séculos, daqui a séculos?
Descereis, descereis sempre, descereis
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Jorge de Sena in Pedra Filosofal
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Pode ainda ler outros poemas de Jorge de Sena aqui no blogue.

5 comentários:

    On 02 novembro, 2009 disse...

    Adorei o poema, condiz com a época da ditadura!
    Beijos!

     

    Olá Paula

    Bela e justa homenagem a Jorge de Sena esse vulto da nossa cultura, infelizmente tão maltratado e incompreendido. O habitual!...

    Amiga, passa pelo Farol e adere à "Corrente de Amizade" que lá estamos a difundir.

    Beijinhos

     

    a arbitrariedade

    dita

    por um

    injustiçado



    *boa semana*

     

    Belíssimo poema, que amarguradamente nos descreve o sentimento de um Portugal perseguido e torturado, que nos faz sentir quanto era valiosa a liberdade da palavra.
    Obrigado Paula, por lembrar à nossa memória colectiva, na pessoa, no poeta Jorge de Sena, que neste Portugal livre, a palavra que hoje nada custa, já teve um preço altíssimo.

     

    Uma das minhas grandes lacunas, como leitor, é nunca ter lido Jorge de Sena. Diz quem sabe que é um dos maiores vultos da literatura portuguesa do século XX.
    Também não sabia que tinha raízes açorianas...
    Este poema tem uma força tremenda. Escrito com o vigor da convicção, nota-se que é uma escrita sentida. Muito bonito, mesmo.

     

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