GREEN GOD
15/11/2008 by Paula
Trazia consigo a graça
das fontes quando anoitece.
Era o corpo como um rio
em sereno desafio
com as margens quando anoitece.
Andava como quem passa
sem ter tempo de parar.
Eras nasciam dos passos,
crescia troncos nos braços
quando os erguia no ar.
Sorria como quem dança.
E desfolhava ao dançar
o corpo, que lhe tremia
num ritmo que ele sabia
que os deuses devem usar.
E seguia o seu caminho
porque era um deus que passava.
Alheio a tudo o que via
enleado na melodia
duma flauta que tocava.
Tu és a esperança, a madrugada,
Nasceste nas tarde de Setembro,
quando a Luz é perfeita e mais doirada,
e há uma fonte crescendo no silêncio
da boca mais sombria e mais fechada.
Para ti criei palavras sem sentido,
inventei brumas, lagos densos,
e deixei no ar braços suspensos
ao encontro da luz que anda contigo.
Tu és esperança onde deponho
meus versos que não podem ser mais nada.
Esperança minha, onde meus olhos bebem,
fundo, como quem bebe a madrugada.
Eugénio de Andrade 1923
das fontes quando anoitece.
Era o corpo como um rio
em sereno desafio
com as margens quando anoitece.
Andava como quem passa
sem ter tempo de parar.
Eras nasciam dos passos,
crescia troncos nos braços
quando os erguia no ar.
Sorria como quem dança.
E desfolhava ao dançar
o corpo, que lhe tremia
num ritmo que ele sabia
que os deuses devem usar.
E seguia o seu caminho
porque era um deus que passava.
Alheio a tudo o que via
enleado na melodia
duma flauta que tocava.
Tu és a esperança, a madrugada,
Nasceste nas tarde de Setembro,
quando a Luz é perfeita e mais doirada,
e há uma fonte crescendo no silêncio
da boca mais sombria e mais fechada.
Para ti criei palavras sem sentido,
inventei brumas, lagos densos,
e deixei no ar braços suspensos
ao encontro da luz que anda contigo.
Tu és esperança onde deponho
meus versos que não podem ser mais nada.
Esperança minha, onde meus olhos bebem,
fundo, como quem bebe a madrugada.
Eugénio de Andrade 1923