Barco, Sofia de Mello Breyner Andresen
21/01/2017 by Paula
by Monet
BARCO
Margens inertes abrem os seus braços
Um grande barco no silêncio parte.
Altas gaivotas nos ângulos a pique,
Recém-nascidas à luz, perfeita a morte.
Um grande barco
parte abandonando
As colunas de um cais ausente e branco.
E o seu rosto busca-se emergindo
Do corpo sem cabeça da cidade.
Um grande barco
desligado parte
Esculpindo de frente o vento norte.
Perfeito azul do mar, perfeita a morte
Formas claras e nítidas de espanto.
Sophia de Mello Breyner Andresen*
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